quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Além-mar

Rasga estas águas
Com o vento que sopra,
Com a estrela que guia,
Com o sol e a lua (que sempre aí estão)
Com a coragem saída da frágua.

Rasga esse globo
E leva! Destemido
Tua sabedoria,
Tua barca, Capitão!
Aos quatro cantos sem afobo.

E aporta onde podes.
Tempestades e ventanias
Maré alta sempre ali
Meia noite, meio dia.
Netuno sempre teve sua ode.

E os peixes que pescar,
Os amores que tiver,
Os raios que tomar,
São companheiros do desconhecido
Da imensidão de todo o mar.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Uma longa e bela história.


Ninguém deixou de visitá-lo. Eu fui, o Carlos também. Joãozito era tudo. Era florido. Estava desnudado.

Quando Joãozito chegou, uma sorte de nobres cavalheiros já o esperava. Todos, encantados, em fila para recebê-lo. Seu discurso, terminou justo: Mas a vida real não é entendível.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Poema Para Todos os Dias

Em Macondo não tem hoje,
não tem ontem,
nem amanhã
opu, quem sabe,
todos juntos.
Em Maconto tem hoje,
e só.
Em Macondo hoje é amanhã
e amanhã é ontem.
Tem anja,
tem anjo,
tem janta e café passado,
tem moça,
tem mosca.
Quem é boi com o rabo se abana.
Quem é vaca com o rabo se profana.

Poema Sem Título Para Duas Almas

Dois meses,
duas vezes,
tem vezes.
Quem pode
não mexe
com aqueles.
Duas velas,
dois sonhos,
dois copos,
dois sonetos.
Um cristal.
Outro, plástico.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Oriente

O som do baixo oito de Januário. O ronco do cachorro no canto da sala, dormia esperando a manhã que não viria. Debaixo do tapete, uma casa que já não existe mais. As penas do papagaio que ficava no quintal, desengaiolado, caídas pelo chão da cozinha.

Hoje tem festa. Antônio, o que dizem ser o Santo, nas barracas ilustrado, uma folha de jornal falando do prefeito. Tem mangada, amendoim, tem cajá, pipoca, um maço verde pra benzer.

Ouvi do caminhoneiro: Aqui o rei é Luiz Gonzaga! Januário é o pai. Como se faz o baião? Vou contar pra você.

Me contou histórias, do triângulo me disse muito, da zabumba tirou o couro num ritmo mágico.

Apenas me virei, com os pés no chão olhei pra mulher ao meu lado. Ela parecia corresponder ao meu íntimo. Fomos ensinar como se faz o baião.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A História Me Absolverá


Depois de tanto tempo venho manifestar a felicidade que me domina pelos oitenta e quatro anos de vida de um dos maiores homens da história. Bem recuperado e com saúde, Fidel Castro, longe do poder em Cuba desde 2008, dedica a maior parte de seu tempo à atividades intelectuais, como a leitura e a divulgação de textos via internet em repúdio aos Estados Unidos e sua política imperialista.

Lembro-me então do seu grande companheiro de luta, que o ajudou a implantar o regime socialista na ilha e percorreu incontáveis kilômetros de aspirações, ideais e glórias, Ernesto Che Guevara de la Serna. Me vem à cabeça uma música que, tempos mais tarde, viria a reconhecer como de autoria de Carlos Puebla. "Hasta siempre, comandante". A música é uma resposta à carta de Che, de 1965, onde despede-se da confortável posição no governo da ilha centro-americana, já estabelecido, em favor da incerta luta revolucionária internacional.

A música revela a fidelidade dos companheiros de Che dizendo: "Hasta siempre", até sempre. Ao grande mestre Fidel, brado o mesmo incontáveis vezes, de peito aberto, esperando que a energia do maior revolucionário da história, nunca se finde.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Imperial Orquestra dos Sentimentos Sem Cadência

Cheguei a pensar que todas as minhas sensções tivessem se mudado pro etéreo. Talvez elas estivessem guardadas bem no fundo da minha alma, escondidas de não sei quem, não sei o quê. Era como enxergar branco e preto, num retrato do hoje, um soneto sem tercetos. Depois virar a tevê e tentar enxergá-la por detrás, através da caixa preta que gentilmente a abriga e esconde lá dentro tanta gente pequenina. Eu tinha frio e não sabia. Agora tudo é febril e meus ossos batem numa cadência jamais antes sentida, meu esqueleto dança regrooved.

Minha caixa preta apita, - denunciando o acidente anterior - eletronicamente fadada a relembrar o ser humano das suas limitações, das tentativas que deram errado.

Tudo enterrado, seja lá o que Deus quiser.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Assistindo ao meu próprio velório pensei:

Aprende-se em um dado momento da vida como se divetir sozinho. Ser feliz também está nessa, estar completo não entra nesse jogo.

A busca incessante pelo autoconhecimento, pela liberdade e capacidade total de expressão, de ser capaz de se enfrentar, enfrentando assim suas próprias inseguranças e rompendo limitações quebram a barreira do privado. De forma gradual a leitura, das mais diversas áreas, sem preconceitos e com um direcionamento preciso, contudo flexível, é a chave mestra da atenção, zelo e preocupação com o bem estar do próprio corpo, mente e espírito.

Rever conceitos, palavras magna que mamãe sempre nos fala. Ampliar horizontes, realmente, produto da leitura e da convivência com as mais diversas pessoas.

Debaixo de cada pele existe um ser único e mágico, muito mais interessante do que o exterior se mostra, mesmo que, para determinados padrões, nada flua e condiza com o que esperamos. Ninguém é totalmente desprovido de conteúdo, normalmente só não tem a mínima condição de transmitir e sustentar assuntos por um espaço de tempo satisfatório. É aí que o mundo gira, os lençóis caem, as luzes se apagam, o refrigerante perde o gás, e todo mundo perde o tesão no ícone sexual do colégio, da academia, que se conheceu na rua, no supermercado, na sala de espera do consultório do dentisa, que pensou-se gostar algum dia, e mostra que as sinapses interpessoais estão rompidas.

terça-feira, 27 de abril de 2010

iPad, a nova tentação. - Com Nelson Merlo

Entrevista com Nelson Merlo, único piloto da história do automobilismo brasileiro com títulos em todas as categorias de Fórmula do País. Nelson é dono de um carisma impressionante, querido por todos no meio automobilístico e é reconhecidamente um dos pilotos mais técnicos e rápidos do Brasil. Merlo tem um histórico de vitórias que vem da época do Kart, passa pela Fórmula Renault e também pela Fórmula 3 Sul-Americana. É também um amante da tecnologia e hoje fala com exclusividade para a Revista Star sobre o mais recente lançamento da americana Apple, o iPad.

Eduardo Zanetti – Boa tarde, Nelson. Tudo Bem? Agradeço desde já sua disponibilidade.

Nelson Merlo – Tudo bem. Claro, sem problemas.

Eduardo Zanetti - Quais são as vantagens e desvantagens do iPad, quais os benefícios do aparelho na sua área de trabalho? Ele traz ajuda nas pistas?

Nelson Merlo – Única desvantagem é que ainda não tem muitos aplicativos próprios pra ele, assim acabo usando os mesmo que tem no iPhone, só que ampliados. E ainda tem que esperar um tempo para os sites e outros serviços se adaptarem a ele...
Na pista não muda muito, única coisa é que posso acessar sites como o Cronomap, que mostram os tempos de qualquer lugar. E tem um aplicativo legal de F1, que transmite as corridas ao vivo, mostrando a posição dos carros na pista, etc.

Eduardo Zanetti - Poxa, esse aplicativo da F1 deve ser muito bom. Pra nós que somos fãs de automobilismo é um prato cheio. Fora o tamanho da tela, o iPad tem vantagens sobre o iPhone? Qual seu grau de satisfação com o aparelho?

Nelson Merlo – Além do tamanho, a velocidade do processador é maior, e os aplicativos padrão, como o Safari, email, agenda, contato, fotos, mapas todos foram feitos exclusivamente pra ele.
Não são iguais aos do iPhone. A bateria dura muito mais do que a do iPhone também. Tenho um Wi-Fi, o 3G não saiu ainda, mas compartilho o 3G do iPhone com ele, assim posso usar em qualquer lugar. Deixo só o iPhone no bolso e acesso a internet pelo iPad. Acho que não valerá a pena comprar o 3G por isso. Quem já tem iPhone não precisa do 3G, porque também não tem que fazer outro plano de dados, pagar outra conta de celular, etc.

Eduardo Zanetti - O consumo tecnológico é algo que não tem fim. Mesmo sabendo-se da não necessidade da aquisição do 3G, pessoas que já tem o Wi-Fi, com certeza comprarão um novo aparelho com a nova tecnologia. Enfim, caso seja necessária, a assistência técnica do aparelho já é feita no Brasil? Pela Apple ou algum agente autorizado?

Nelson Merlo – Ainda não, porque ele não começou a ser vendido aqui. Só nos EUA, no resto do mundo ainda não foi lançado.

Eduardo Zanetti - Muitíssimo obrigado, Nelson. Essa é mais uma novidade que promete para os consumidores do Brasil. Boa sorte com seu trabalho nas pistas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Lecionar






Que algum dia a água não apague o fogo e que o a lua ilumine os dias.
Depois de noites de sono mal dormidas, a necessidade de criar sucumbe ao cansaço mental e o blog torna-se refúgio das idéias incompletas. Sei não, me parece que o dia anda mais curto e a noite mais longa.

Debaixo das asas daqueles que perderam a ideologia governista antes proposta, do governo irresponsável, do desrespeito aos docentes e o respeito dos alunos por estes e sua luta, as paralisações e protestos tornam-se pouco audíveis à sociedade. Os patrões vivem no fundamental lucro à custa de exploração. Até onde iremos chegar?

Me disseram tempos atrás: Quem faz o mundo são os alunos. Eu retorço: Quem faz o mundo são os professores.

De nada adianta a busca sem direcionamento. O caminho que os mestres nos indicam nem sempre é o melhor, mas jamais é um caminho que nos leva a nada e nos torna sem objetivos.

sábado, 20 de março de 2010

Ácido

A velha, a voz
canta o som que margeia
que margeia o som
que sai do peito, da bolsa
da velha, que chora
que ri, que come
e fode.

Lá é tudo barato,
é um barato,
a barata é um barato,
que canta, que chora,
que geme, que grita.

A velha pinta
o corpo e procura
o que é certo,
errado,
que fede
e é cristalino.

Não tia,
eu não to com leucemia,
não tem tristeza, nem medo,
nem ziquizira,
que seca a teta
da preta,
que bebe
o leite do gato,
que rasga o peito
quando
de noite,
escuro,
é dia.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Estudantes se (re)organizam

Sem acontecer desde 2006, o Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Erecom) vem com força total no intuito de mobilizar a executiva regional dos estudantes de comunicação social a retomar as atividades estudantis e organizar os estudantes, propiciando uma vivência dessas situações em um espaço diferenciado. Sem esquecer do lado político-social, o encontro objetiva preparar os alunos que desejam participar dos movimentos em defesa da profissão e outras diversas pautas abordadas pelo movimento e seus interesses para o Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecom), este que promove discussões de interesse nacional.

Para o ano de 2010 a comissão organizadora do Erecom já está em processo de formação e discussão e receberá membros colaboradores no Diretório Acadêmico de Comunicação Social da Universidade Fumec (DA.com), sendo composta apenas por estudantes do estado mineiro. Estudantes da Fumec, Newton Paiva e PUC-MG já participam do processo organizacional e tem a pretensão de expandir o corpo integrante com alunos das mais diversas instituições de ensino superior.

A próxima reunião da comissão organizadora do Erecom acontecerá no campus São Gabriel da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais na próxima terça-feira, dois de março, às 13h. Compareça e ajude a embasar as diretrizes regionais da comunicação social.

Um brinde à sétima arte

O Diretório Acadêmico de Comunicação Social da Universidade Fumec (DA.com) dá continuidade ao projeto de campanha que propôs a criação de uma DVDteca para atender aos alunos do curso. Aproximadamente 20 títulos já estão disponíveis para empréstimo, dentre eles “Carandiru”, “Olga” e “Moulin Rouge”, além dos bons VHS previamente existentes.

Pede-se também a colaboração dos alunos que possuírem títulos de interesse coletivo que venham a ceder os filmes para o DA.com que fará cópias para uso não comercial e posteriormente os devolverá em perfeito estado.

Os interessados podem conferir os títulos disponíveis e colaborar com o acervo no DA.com. Todo o processo de empréstimo dos filmes é feito pela secretária Natália, das 8h00 às 12h00.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Atividade

A imprensa está caindo em descrédito, sem para-quedas e sem ninguém que a segure. Isso se deve a perda do papel social do jornalista.

Há um certo tempo, a informação correta, imparcial ao público leitor deixou de ser transmitida, deixando pra trás o papel social antes atribuído a este formador de opiniões.

Dizer que o papel social do comunicólogo chegou ao fim não é sinônimo de dizer que o jornalista não tem papel social, o que, felizmente, há em abundância.

Buscar informações idôneas, informar o público leitor e fiscalizar os poderes é a essência da atuação social do comunicador, falta colocá-lo em prática.

Em apenas quatro anos de faculdade deve-se formar um profissional de caráter, bagagem e competência, é a alavanca da máquina da sociedade da palavra, onde, antes dela, Hitler justificou a morte de milhares de pessoas, Jesus Cristo pregou e Lula se elegeu.

Lembrando o poder do comunicador, temos Ernesto "Che" Guevara - Prefiro enfrentar um exército a enfrentar um jornalista.

Esse poder, hoje, foi redescoberto durante a busca do controle da opinião pública por um partido político.

O jornalista é um ser social.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Novela das Férias de Verão.

Há seis semanas os sons daquela melodia do mato vinham se reproduzindo com uma nitidez cada vez maior, antes era o sabiá na Serra da Boa Esperança, aquele que bateu asas e aninhou na minha janela, depois os filhotes. Tinha cheiro de mato seco e dali vinha um calor com gosto de sereno que me lembrava as manhãs na fazenda junto do curral e as galinhas que eriçavam as penas tentando se aquecer...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Himeneu

No capítulo trinta do livro Cândido ou O Otimismo de Voltaire, o escritor insere duas palavras em um contexto assustador para a segunda metade dos anos 1700, pelo menos a meu ver. Foi, sem dúvida alguma, a passagem mais marcante do livro para a grande maioria dos leitores da atualidade. Rabugenta e insuportável foram as palavras, e elas se referem à Cunegundes, grande amada de Cândido, o protagonista, pela qual ele viajou o mundo, perdeu fortuna, passou inúmeros apuros e pensou durante toda sua odisséia só ter felicidade quando encontrasse a amada.

Voltaire, na conclusão de sua obra, fala das provações por que passou Cândido e do seu casamento com Cunegundes e ainda: mais nada lhe restou além de sua granja; a mulher, dia a dia mais feia, tornou-se rabugenta e insuportável.

Seria esse o fim de todos os homens? Seria mesmo o casamento uma reunião de desilusões e medos, um consórcio com o diabo e o banquete onde vamos nos redimir à todos?

Ainda me vem o pensamento de que todos gostam quando a noite vem e que isso é o que faz todos perpetuarem numa escravidão sem vassalos nem suseranos, quiçá, algum dia, se amarão sem saber.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Meu Eu Retorcido - por Taisa Pinheiro

Havia no canto da boca um laivo de despedida embebido de saliva e ausência. Gesticulando deixava transparecer na língua a queda úmida de palavras densas e não ditas que aos poucos desbotavam , deixando um gosto ocre e um torpor amarelecido por entre os dentes.
Uma distância imensa: céu da boca.
Nódoas tingidas de lágrimas desciam surdamente engolidas em traquéias e a meios tons de angústia.
-Uma distância imensa – repetia.
Trouxe as mãos ao pescoço como se pudesse exteriorizar seu sufocamento. As pulsações- dedos e átrios – era lenta e o ar ainda entrava facilmente , as unhas ficavam um pouco roxas naquela compressão , pouco doía .
- “Finge tão completamente que chega a fingir que é dor , a dor que deveras sente”- pensava em devaneio ensimesmado .
As linhas das mãos , que respiravam sobre a epiderme , escorriam irregulares dentre as falanges e os mananciais da palma , perpassavam veias , que lhes eram mais profundas , formando destinos inevitáveis , ramificados sob o leito de pequenos estuários , sangue e só .
Meneava a cabeça em esquecimento, tinha seus pensamentos abrandados pela inconsciência.
- Nem quiromancia intercede pelos destinos avessos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Escravos do Neoliberalismo

Por várias vezes fui questionado da minha escolha em abandonar a faculdade de engenharia automobilística - eu disse a faculdade, não a paixão por automóveis, nem mesmo despresando a engenharia - e mergulhar de cabeça no curso superior de jornalismo, já que esta profissão não tem mais a obrigatoriedade de um diploma. Minhas respostas nunca fugiram do óbvio: "paixão", "ideal de vida", "necessidade de viver em um mundo mais culto" e "escrever engrandece e me dá prazer".

O real motivo sempre foi próximo à minha realidade e gosto pela leitura e a arte de escrever. Talvez existam equívocos da parte dos que me fizeram esse tipo de pergunta, em sua maioria.

Todo curso superior tem um propósito muito mais nobre que definir a profissão, é algo que aperfeiçoa as qualidades únicas de cada indivíduo, que direciona a vocação ao campo vizinho à perfeição e profissionalismo. Pra qualquer alienado ou irresponsável, não é mais que o lugar onde se recebe o diploma para trabalhar em algo que os permita comprar suas bugigangas. Não só a faculdade de jornalismo, é onde os verdadeiros diamentes são lapidados.

Para ser um jornalista não é necessário ter frequentado a univerdidade, nada ensima mais que trabalhar em uma redação, mas várias portas abertas surgem no meio universitário e a amplidão de pensamentos vem como algo natural, graças ao que estudamos.

Caros leitores, amigos e desconhecidos, viver em plena felicidade, realizando sonhos e tentando ser cada dia melhor e mais sábio, reconhecendo também a pequenez de nossos conhecimentos e, com isso, a grandeza de nossas almas e voraz capacidade de bater de nossos corações está intimamente ligado a valorizar quem sabe o que quer ou, pelo menos, o que não quer. Não quero ser um escravo do neoliberalismo que vive com as mãos atadas às costas, melhor ser flagelo do mundo e ter aval o Divino de ser quem eu sou.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sobre "A Festa da Menina Morta"

Dirigido por Matheus Nachtergaele, lançado em 2008, o longa de 115 minutos chama a atenção principalmente pela relação com o tempo. Tudo passa muito devagar, grande parte das cenas é uma demonstração do marasmo em que vive a população ribeirinha.

De grande polêmica, o filme provoca sensações diversas nos espectadores. Até mesmo em Cannes, onde foi exibido na mostra Un Certain Regarde, alguns presentes deixaram a sala de exibições durante a sessão. Se nesta não foi premiado, o mesmo não aconteceu em Havana, Los Angeles, Chicago, Gramado e Rio de Janeiro.

A história se desenrola numa cidade onde, há duas décadas, é celebrada uma festa onde todos buscam ter a benção de um jovem santo, interpretado por Daniel de Oliveira, o Santinho, que, após o suicídio da mãe, recebeu da boca de um cachorro os trapos do vestido da menina que desapareceu e fala, em transe, todo ano, incorporando esta.

Várias sequências de sexo entre o Santinho e o pai, Jackson Antunes, aparecem durante o longa, não sendo essas os únicos momentos fortes.

Conta ainda com Dira Paes, Cássia Kiss e atores pertencentes à comunidade ribeirinha onde o filme foi gravado.

O roteiro, além de Nachtergaele, conta com a criação de Hilton Lacerda, um outro pernambucano e que ajudou Cláudio Assis em outros dois filmes bem polêmicos, "Amarelo Manga" e "Baixio das Bestas", que procuram confrontar padrões.

É uma contraposição do sagrado e do profano, e centra-se no poder do misticismo. Não aspira ser um filme leve e simples, muito menos digestivo e a ferocidade dos excessos do diretor vêm retratar um Brasil arcaico, primitivo e feroz. Isso traz a imipressão que, deste filme, nasce um novo diretor, sério, engajado e comprometido com o cinema.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sobre o "Resgate dos Novos Baianos"


O irreverente cantor Luiz Galvão, em tom de alegria e anarquismo, comenta, no documentário "Filhos de João - Admirável Mundo Novo Baiano", que "faz 17 anos que não fuma maconha nem bebe vinho." E ainda acrescenta: "O que é bom, porque eu poderia ter me transformado num terrorista." Esse longa foi o primeiro filme exibido no 42º Festival de Brasília, na última semana do mês anterior.

Com a proposta de resgatar a tragetória do grupo que sacudiu e estremeceu o Brasil todo, os envolvidos nessa história fizeram rememorações que foram gravadas por Henrique Dantas e equipe. Foi uma fase de dez anos - 1969 a 1979 - marcada pelo swing dos Novos Baianos que, ainda hoje, tem expressão e é referência para uma restrita, mas não inativa, classe de jovens. Uma figura primordial durante essa época foi o baiano bossanovista João Gilberto, grande responsável pela ascensão da banda. Dantas acrescenta que "aquilo que é testemunhado hoje, amanhã pode ser narrado de forma completamente diferente". A tese que ligava os Novos Baianos ao mundo foi a crença em eles serem "filhos" de João Gilberto.

O orçamento do filme foi restrito - cerca de R$21 mil. Os trabalhos da produção ocorreram nos últimos 11 anos e registra depoimentos memoráveis de quase todos os integrantes do grupo e ainda falas de Tom Zé a respeito dos conterrâneos, fora imagens de arquivo raríssimas e cenas basilares do cinema baiano como "Superoutro" de Edgard Navarro, 1989 e "Meteorango Kid" sob o comando de André Luiz Oliveira, de 20 anos antes.

Os "Filhos de João" tem dois fantasmas que os ronda. O primeiro e nada surpreendente foi a ausência do recluso "pai" que aparece apenas em uma única foto e nos depoimentos. O outro é Baby Consuelo, atual Baby do Brasil, que aparece em arquivo durante o filme todo mas não aparece dando seu depoimento. Foram gravadas cerca de três horas de conversa com a cantora, disse Dantas, "Foi maravilhoso. No fim eu queria casar com ela", arrematou. Após toda a edição do longa, a autorização de Baby para utilização da entrevista não foi conseguida e o filme só pode ser apresentado sem sua participação, necessitando de total reconstrução.

O longa é uma dica tanto para cinéfilos quanto para apaixonados por música e torna mais gratificante a sua apreciação quando de maneira acrítica.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A treva

Não aguento mais ter que reverenciar artistas imbecis. E o mundo está cheio deles. Nem só artistas, também muitos imbecis. Por onde passar haverá pessoas cantarolando - que nada, estão é proclamando hinos de uma geração emburrecida e sem ideal - músicas que dizem tudo sobre como ser uma mulher sem princípios, como o corpo de tal pessoa gera apenas, apenas mesmo, pensamentos e impulsos voluptuosos, rocks de baixíssima qualidade com uma sentimentalidade sem parâmetros e que incitam revolta - não é revolução. Também, em grande parte dos papéis midiáticos que vemos por aí, somos obrigados a engolir textos extremamente mal-feitos, grande parte das vezes sem lógica ou portadores de uma alinearidade que só caberia numa escrita surreal.

Estamos asfixiados num país que tão amplo. Parece que, atualmente, tentam fazer conosco o que Mao fez na Revolução Cultural: reeducar ou acabar com os artistas e intelectuais sob a acusação de que se diferenciavam do resto da população.

A arte provocou, nos últimos cem anos, um desconforto comparável a uma noite de sono num colchão de sabugos e palha.

A defesa da "naturalidade" do gosto e das idéias está em pauta há algumas décadas: só se deve gostar daquilo que já se gosta e entender daquilo que já se entende. Atualmente isso é vendido pela "democracia" da internet e do mercado, onde tudo está ao seu alcance.

O velho, mas não desatualizado, princípio da oferta e da procura, um princípio neo-liberalista, guia também a indústria cultural. - Dá-se ao público o que ele quer, já conhece e aquilo que o fará despender menos energia ao consumir.

Com absoluta certeza, muitos artistas, os verdadeiros artistas, deixaram de se apresentar em palcos ou escrever, compor ou o que quer que fizessem já que a mídia começou a impor o que a sociedade iria consumir e a desmotivação tomou conta de um ser iluminado.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009





Pin-ups, a época de ouro da sensualidade. Meu novo wallpaper.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Nem a Mini Nem a Saia

Observando o caso da estudante de direito Geyse, acadêmica da UNIBAN, agredida e desmoralizada por mais de 600 alunos dessa universidade, colegas ou não, uso a mente para regressar ao meu tempo de colégio, nas séries mais avançadas do ensino fundamental e as demais do ensino médio. As garotas tinham seu estilo, um estilo bem solto e liberal, nem por isso eram vulgares. Volto também ao tempo que não vivi, tempo dos meus pueris genitores e enérgicos avós. As minissaias eram moda, modernas e à frente do seu tempo. E não eram minissaias discretas e comportadas, nada de 5 dedos acima dos joelhos.

Foi nessa época, em que a maioria era contrária ao regime ditatorial, que a minissaia tinha seu diferencial. E a ditadura era só do governamental. Muito do que hoje é moralizado, naquela época, era sinônimo de ser descolado, liberal. As mulheres tinham seu espaço e eram tão importantes numa revolução quanto os homens. As maiores armas da frente de batalha eram pernas desnudas, coques e cortes Channel, sapatos de verniz e uma suprema e delicada valentia.

Não que o mundo fosse regido à base de impunidade, muitas pessoas pagaram por seus atos "perturbadores da ordem". Tanto homens quanto mulheres. Prisão. Tortura. Exílio.

Talvez nossas garotas tenham perdido ou dominado parte do seu instinto contra a sublevação mas jamais perderão sua tendência e seu prazer em seduzir e encantar os homens, muito menos perderão o amor às minissaias.

domingo, 15 de novembro de 2009

Mais um verão pela metade, só tenho lamentos. Hoje temos diferentes as pessoas que no começo do semestre eram massa. Todo dia chega o proletariado, futuros vendedores, caminhoneiros, domésticas, porteiros, guardadores de carro. Os docentes só podem esperar o pior do que ocorre ou alienarem-se à realidade. Será que esse é o progresso socio-educacional de que tanto vem se falando?

Até onde iremos nesse progresso neoliberal que só denigre a imagem e a capacidade pessoal, que só desmerece e desvaloriza o trabalho digno e bem feito?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um ballet esquisito

Por que não ouvir clarim e esperar um bom futuro? Talvez minha voz não possa cantar todos os hinos que meu peito brada.

Já nem lembro da chegada nem espero a partida ansioso. O mundo pede bis e não entendem o pós-modernismo safado que proclamo como um revolucionário. Meus males e os bens do mundo despontam sobre o cristo.

De tanto amar acho que ela é bonita, não gosto de agitos e evito uma pedida menos brava. Toda pintura me faz rodopiar, creio no céu azul e nas águas claras.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Fer-vor

Meu caro amigo, sem perdão,
és um símbolo dum país sem nação,
desinteresse meu não tem rumo,
e não é choro teu sumo
nem amor tua dor;
ontem foste mais que mais um,
amanhã nenhum desamor.


E o que me parecia perfeito
caiu desse jeito sem perdão,
e tinha cá pra mim que eu era da pesada;
mesmo que toda a miséria me fizesse menor
ainda seria bom;
e as águas, que tantos segredos sabem,
te diriam mais do que sabemos.

Larga o dia, e passa com seu vestido grená,
um dia chove, outro dia bate sol,
e a gente vai clamando por aí,
venho atiçar suas saudades,
sem a cachaça e a aqui vão jogando futebol.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Lenha.

Hoje acordei com uma chuva pesada batendo na janela. Era menos de 5 da manhã e a vontade de sair da cama não vinha. Nem um Amor de Perdição ou uma Moreninha me tirariam debaixo das cobertas com o frio que fazia.

Me lembrei de quando, ainda pequeno, ficava na fazenda da minha bisavó sentado ao lado do fogão de lenha brincando com as brasas. Surgiam ideias para novas traquinagens, a bisa aparecia com doce de leite pra mim ou um pedação de rocambole. Não havia frio que me espantasse, e nenhum monstro surgiria para me assustar, ali estava protegido.

O fogo causa espanto, causa medo, é perigoso, mas traz também segurança, conforto, tranquilidade para aqueles que o respeitam.

Lembro também dos gatos da fazenda, aqueles gatos que ninguém os vê em momento algum, só quando alguma coisa do lado de fora da casa está errada, uma chuva forte, um cachorro ameaçador ou qualquer intempérie que signifique perigo aos ariscos felinos domésticos - nem não domésticos ou domesticados assim - que se aqueciam próximos ao fogão e ali tinham seu cantinho para dormir.

Bom mesmo era pensar que o mundo girava ao redor daquele fogão, onde toda a família se servia do que quer que houvesse em cima dele. Eram tantos primos, tios, parentes distantes e amigos que nunca a mesa da cozinha se esvaziava e a movimentação cessava.

Em cima de um armário, várias latas enormes cheias de bolachas de amoníaco e biscoistos de polvinho, e nele inúmeros potes com os mais variados tipos de pimenta. Tudo isso era acompanhamento para o que saía do fogão.

Gostaria de ouvir as histórias que esse fogão tem pra contar.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Da Escolha da Profissão

Um belo dia amanheci e, neste dia, rumei à um mundo diferente daquele que eu conhecia. Um velho conhecido que estava bem mudado, apresentava-se diferente, vestia roupas novas que ainda assim deixavam seu peito descoberto. Seu sorriso era o mesmo e seus olhos tinham agora um brilho que prendia a atenção do novo morador, transeunte conhecido da região.


Escrever, para nós, é uma necessidade. Mesmo todos os leitores do mundo e mil anos nos seriam poucos para tanto ímpeto. Viver é fundamental.

A intuição deve ser seguida quando falamos da escolha da profissão. Ela não está só ligada ao status social, necessidades e achismos, está intimamente ligada com a vocação. É nos níveis mais profundos da consciência que existem respostas para todas as indagações - aí entra a capacidade de intuir.

A compreensão sem interferências dos aspectos da realidade é chamada intuição, e vem do contato da consciência externa do indivíduo e do seu mundo pessoal e abstrato. Surge sem que se faça uso de qualquer atividade mental ligada ao raciocínio, no intervalo entre os pensamentos. Existe aí a necessidade individual de entregar as ideias com desapego à sua natural capacidade interior de resolver problemas, isso liga a percepção clara e imediata à fé, essencialmente.

Caminha-se numa linha tênue, sutil e delicada. Nenhuma excitação aflora, nem surgem paradoxos, a alegria e a tristeza, o entusiasmo e a angústia. Em geral não lhe é dada a devida importância, todavia pode-se concluir que a intuição poderia prevalecer sobre o pensamento automatizado em grande parte dos casos. É aí que muitos vestibulandos caem em tentação e optam por um curso que foge à natureza de seus corpos, deixando de lado seu íntimo selvagem, que conhece tudo o que se passa dentro de cada um deles, e agindo de forma racional, criando expectativas e sobrepondo preferências de uma massa social genérica à sua percepção nata.

A falta de instrução dos jovens com relação à escolha da carreira aliada à um mundo onde algumas poucas profissões são insignes e as outras sem relevo, quando não gera o abandono da carreira durante ou após a faculdade, promove uma enxurrada de profissionais deprimidos, inseguros e que vivem em um cárcere de emoções.

Por que não deixar o pensamento correr solto e ir atrás de seus sonhos tão logo eles sejam palpáveis?

Na vida encontramos muitas coisas notáveis e úteis, que não duvido serem proveitosas a quem procure a verdade e queira fugir de pontos obscuros, rudes e imperfeitos, os quais por vezes ocorrem.

Muitas das coisas que tememos não carregam em si nada de bom nem de mau senão enquanto o ânimo se deixa abalar por elas. À primeira vista parece insensato querer deixar uma coisa certa por uma então incerta. De fato, via as comodidades que são geradas por honra e por riquezas, a suprema felicidade não consiste nessas coisas. No que tange à concupiscência, o jovem repousa num bem criado por ela, onde torna-se impossibilitado de pensar noutra coisa.

A intuição é sábia e na vida o único Mal é a ignorância. É daquela que devemos usufruir e é nela que encontraremos a razão. Com efeito, disso podemos tirar não pequeno proveito; acresce que desse modo oferecerão ouvidos prontos para a verdade.

"A coisa mais difícil para o homem é o conhecimento próprio."

Provérbio Árabe

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Naquele Tempo - por Waldir de Luna Carneiro

Neste aniversário de "Gente Muito Importante", com parabéns para a Dalzira e sua brava equipe, nos lembramos do curso primário, quando inventamos de fundar, ao contrário de muitos que queriam um jornalzinho, uma pequena revista. Não havia a tecnologia de hoje, que edita um livro em poucos dias e uma revista em poucas horas. Depois das reuniões na sala de aula, optamos por visitar uma gráfica. O proprietário se assustou com o bando de meninos e meninas que queriam percorrer as oficinas para saber como se fazem jornais e revistas.

Não tínhamos a menor idéia de uma tipografia. Nosso espanto divertiu os tipógrafos que nos encheram de explicações. Jornais e revistas, disseram eles, saiam inicialmente de caixas de madeira divididas em compartimentos e dentro de cada compartimento, uma letra diferente. E dali as letras pulavam para uma pecinha metálica que chamavam de componedor, que era empunhado pelo gráfico com a mão esquerda, enquanto a direita ia pescando as letrinhas que nos pareciam de chumbo. Letra por letra, surgindo frases que enchiam o componedor. E não era só letra. Haviam espaços também de chumbo, de vários tamanhos e espessuras, para separar as frases; sinais gráficos de "ponto", "vírgula", "ponto e vírgula", "dois pontos", "interrogação" e "exclamação" e tudo mais que requer a grafia. As letras maiúsculas tinham seu recanto, não se misturavam com as demais. Enchido o componedor que abrigava de cinco a dez linhas, o tipógrafo, com muita técnica e carinho, transportava o composto a um pequeno tabuleiro e de lá para a paginação, um grande quadro, espécie de moldura que seria a página do jornal ou da revista. Devidamente ajustada, a composição ia com segurança à impressora, que poderia ser movida a eletricidade ou manualmente. Na impressão das páginas havia rolos, que antes de receber tinta pareciam geléias de mocotó. Saímos maravilhados. Encantados. Que notável era a feitura de um jornal. Lembrávamos de "EU SEI TUDO", a mais importante revista que naquele tempo circulava no Brasil. O dono da gráfica explicou-nos ainda que Machado de Assis muito aprendera trabalhando numa tipografia! Aquilo nos deixou enlevados e passamos a cuidar do que publicaríamos numa primeira edição. Cuidamos de juntar dinheiro, a gráfica não faria nada de graça, mas nossa emoção era tal que deixamos isso a cargo da professora, a mais interessada no nosso arrojado projeto. Ela queria saber de que assunto cuidaríamos. Choveram composições: "A Fazenda assombrada", "O pio da codorna", "A lagartixa esperta", e como era tempo da Revolução Constitucionalista, surgiu "Morte no túnel da Mantiqueira". E o título para a revista? "A Voz do estudante"?, "O Dever"?, "O Brado Juvenil?, "O Colibri"? Saiu até, me lembro bem, "Juventude Importante". Foi a batalha mais árdua. Não sabíamos como arrumar um bom título. Dezenas de opiniões surgiam, pedimos ajuda para os colegas de outras séries, parentes e amigos, até que o marido da professora, conhecido pela sua sovinice, não querendo participar com dinheiro, nos convenceu que deixássemos de bobagens, seria uma revistazinha que ninguém ia ler. E lá se foi o nosso sonho, o decantado projeto, mas aprendemos, descobrimos como se faziam jornais e revistas. Aquela tipografia nos pareceu tão importante que passamos a olha os tipógrafos como se fossem engenheiros, os arquitetos, os construtores das catedrais do saber.




Na primeira vez que li esse texto do querido "tio Waldir", o maior dramaturgo amador do Brasil, contista premiado, dedicado às comédias de costumes, também recebedor da "Medalha da Inconfidência", do Estado de Minas Gerais, como reconhecimento do seu trabalho, várias sensações, por mais estranhas que me parecessem, afloraram. Numa segunda leitura, me veio à cabeça um mundo mais charmoso, mais lido, menos robotizado, menos desinformado, menos globalizado, no qual eu gostaria de ter vivido. Nas leituras subsequentes, tudo tornou à minha infância, quando queria ser alguém diferente.

Eu era movido à música boa, clássica, tinha, e ainda tenho, Bach como meu preferido, ao lado de Vivaldi e Richard Strauss. Aluava ao som de marchinhas, bossa nova e sambinhas aos oito. Aos dez, queria ser diplomata. Uma compreensão de mundo muito menos ligada ao que pensavam os outros e muito mais livre de preconceitos.

Não desbota da minha memória a expressão da face dum colega de sala da terceira série num dia que acordara com a pá virada. Em resumo, me senti um serzinho verde ou cinza, com o que ele me dissera, vindo de outra galáxia. Meus canais com esse mundo que eu cultivava se fecharam parcialmente. Tornou-se um prazer quase secreto escutar músicas que nenhum outro garoto da minha idade escutava. Imaginava-me como um pecador por não gostar do balanço do axé ou a batida da música cowntry.

Quem dera eu tivesse conversado com meus pais, pessoas instruídas, sobre o que aconteceu. Talvez minha infância não teria a marca desse dia. Poderia ser bem diferente. Será que eu não teria influenciado o gosto musical e o prazer da leitura em alguém? Provavelmente eu gostasse mais de ler e escrever do que gosto hoje. E redigiria melhor, e teria mais bagagem cultural e minha leitura seria tão dinâmica como será daqui certo tempo.

Bom mesmo é pensar que ainda penso, e é melhor do que nada.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Alimentação e hábitos de vida saudável.

Se nos alimentássemos melhor, viveríamos mais. Fato consumado, rematado.

Se nos alimentássemos da música que nos é imposta pela mídia já teríamos morrido há muito tempo. Onde estão os ícones culturais, os homem-luz nos quais nos espelhamos?

Talvez um regime opressor gerasse emoções, frustrações, insatisfações, sentimentos que traduzir-se-iam em elementos culturais de qualidade, proporcionando um engrandecimento espiritual no "pai-da-obra" e insuflando pensamentos e sentimentos nos consumidores.

Talvez o caminho do meu sangue nao estivesse alterado pelos ateromas de sertanejo, das danças "da bundinha", "da boquinha da garrafa" e das frases sem pudor do Funk. E aquele bate-estaca que altera meu ritmo cardíaco talvez fosse uma influência pouco conhecida no meu mundo e no seu também. Se você perde seu tempo lendo textos de um jovem que ao menos tenta ter senso crítico, você não é massa, é molho.

Fast-food é junk-food. Fast-food é música de hoje em dia. Junk-food, junk-music.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Direito À Vida na UE

Nos jardins de Belém existe um painel de azulejos alusivo à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, promovido, entre o outras entidades, pelo Centro de Informação Jacques Delors e pela Junta de Freguesia de Sta. Maria de Belém.

O painel até é original e a mensagem importante. A curiosidade está na interpretação que se faz do artigo 2.º daquela Carta segundo o qual “Todas as pessoas têm direito à vida. Ninguém pode ser condenado à morte, nem executado.”



A "criança" que ilustrou este fê-lo de forma original o que me leva a dizer "abençoados pais que geram crianças tão esclarecidas"

domingo, 26 de julho de 2009

Chicória-maria e um bando de bolinhos de carne.

Pensando sobre o que faz me bem e o que me faz mal, vi minha saúde indo e vindo, pra lá e pra cá, como um pássaro ao fim de tarde. Por que precisamos nos preocupar tanto com o bem-estar e o bom funcionamento do nosso corpo? Não seria mais fácil vivermos sempre com um pouquinho a mais, sem nos preocupar com a balança, colesterol, triglicerídios, pressão sanguínea, ateromas e afins? A escravidão do dia-a-dia-frenético-sedentário é o Lenin dos dias de hoje e a balança é Stalin botando em prática o primeiro.



Tempos atrás, quando não existia wafer, chips, hamburger e fast-food, se vivia em paz consigo mesmo.



Tempos adiante, quando quando alface for obejto de museu, arroz integral for apenas tema de tese de doutorado, grama for artigo sintético destinado a animais herbívoros, os ninhos dos pássaros forem feitos em árvores plásticas e não se saber o que é chicória, almeirão, pequi e tantos outros, perguntarão a um homem remanescente de outros tempos, morador de uma casota, que comeu cenoura sem ser coelho e não conheceu banana-nanica na literatura, como era a vida sem sobrepeso, infarto aos 40, boa circulação e sem problemas de pulmão.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pra viver um grande amor.

"A loucura é um simples desarranjo, uma simples contradição no interior da razão, que continua presente"

Para muitos, o mundo é algo incompreensível. Outros tantos tem olhos voltados a um mundo inteligível.

No curso de engenharia automobilística da FEI, onde estudei até ano passado, vivía num mundo racional, palpável e lógico. Hoje, tenho novos lápis em minhas mãos, aqueles que podem, num piscar de olhos, tornar em pincéis ou fotografias. Decidi mudar o rumo, talvez essa seja minha sina, decidi escrever. A faculdade de jornalismo será meu novo mundo.

O gosto pela leitura, pelas artes, pela música e a arte prática da escrita compraram por preço simbólico meus ideais. Quem sabe já não eram os donos dessa filosofia meus sonhos?

Até me estranho nesse momento, escrevendo em primeira pessoa, dizendo a alguns sobre algo que não os interessa e sonhando com as tardes no alto das Mangabeiras acompanhado por um livro, empoeirado e nem por isso menos fantástico.

sábado, 11 de abril de 2009

O Criar da Arte pela Arte

Hoje me veio a vontade de fazer algo genial. A genialidade fica num mundo diferente deste que estamos, fica à deriva num mar de cópias bem feitas, bem aproveitadas. Do cais se escuta os gritos dos passageiros que veem o navio partir sem levá-los, aí estão as más idéias, que açoitam a mente doentia dos submetidos ao beneplácito régio. Poemas em prosa num país de cegos-surdos-mudos e pirâmides sem sol. Exaurido da criação, gerou mais um.

terça-feira, 17 de março de 2009

Pro mundo em chamas, Deus fez a chuva. Pro mundo de cabeça pra baixo, tenho um espelho. Pro mundo desconcertado, a ressurreição. Pro mundo sem razão, o mundo na tua ausência.
Que caiam dum lado as chaves da prisão, do outro as roupas, pelas minhas costas cem mil e jamais serei tocado. A ti, minha frente, sou um trapo.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

A natureza é aquele lugar da paz, do som da chuva e do canto dos pássaros, minha casa e refúgio dos meus medos. Nesse lugarzinho tão grande, do vento molhado que sussurra nos meus ouvidos, a cegueira, mãe da visão, é só fato da tua existência. Caído ao pé da figueira, o sol me contava histórias de um presente que só ele via e que só a lua sentia sem mais nada poder fazer por nós. Mesmo assim, na teimosia da formiga, a comida do futuro vai alimentando o coração e reinventando a cada dia o amor.

Por vida e por céus, súplicas e promessas, jamais faltem com a verdade.

sábado, 31 de janeiro de 2009

No Cárcere

Ansiedade virtuosa que tão pouco diz, clamo a ti por tempo, relativo rápido. Debaixo dum véu, onde te encontro? Pinheiros que deixam qualquer um sem sossego, sinuoso e longo é teu trajeto, estrada pra viver. A estática e estética que guardo em meu bolso, todo dia, de chuva ou sol, me mostra sonhos e fantasias. A polêmica e a modernidade, frontadas, tornaram-se combustível duma fogueira que, mesmo não ideal, não forma resíduos.

Ali tem uma ponte onde um morador nada ilustre, velho negro, de poucos dentes, olhos caídos e cabelos bem grossos, cria histórias. Senhor jocoso e amante do alcatrão, inebriante. Tudo o que dizes é fogo-fátuo, nos faz sentir tolos e envergonhados da própria crença um no outro. Noite sem sono daquela manhã, criada por ele, não mais venha me visitar.

Cada despedida de todo reencontro é envolvida de apego sem limite e os olhos longe estão, as almas se vão, os pensamentos sem não. Dum lado a mãe de todas as esperanças e do outro o tronco da laranjeira. Pra frutificar, em pedras, o açoite tem que vir e calejar. Pra colher, os frutos tem época, um de cada vez, quando maduros o bastante. Unir e pensar, de alma e sentimento, com a vontade de, com os frutos e muito açúcar, doce fazer e nunca mais perder.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Na Alvorada Trago Açúcar, Luto, Incansável, Amada.

Tive vontade, certa vez, ou hoje, de sentar-me na calçada, ou assentar-me. Que piso, firme, serei. Preferi escrever e contar a todos glórias e desventuras num velho caderno, capa desbotada e folhas amareladas onde meu mundo me conforta. Desesquecer da violência pátria, amargosa-cansada. Os olhos ardem, de sono, de água, de-você-que-nasceu.

sábado, 10 de janeiro de 2009

A ti, que sabes de mim

Ao contrário, sou mais sossegado e sensível do que pareço exteriormente. Antes, nem eu entendia isso, talvez as explicações mais lógicas pra uma personalidade estejam na irracionalidade das ações. Aquele paredão de pedra, cinza e frio, alto e irregular, intimidador, causou-me uma introspecção. As inseguranças afloraram e, apesar disso, o medo era o que menos se manifestava.

Se o telefone toca, com ímpeto, meu braço corre a atendê-lo.

Os verdes campos da região, suas árvores e bichos. Os sons e os cheiros. Noites e dias. O tempo e o vento. Um minuto pra pensar e um segundo pra dizer qual o motivo dos átrios e ventrículos baterem em harmonia tão descompassada. A eternidade é o céu e a terra num casamento celebrado por Deus, ligeiro e esplêndido.

Sou pós-impressionista, daquilo que meu fracasso é capaz de me dar, só quero a fama póstuma. Acordar metamorfoseado em insetos e, de larvas, ser borboleta. O burburinho da destemperança não me dá náuseas nem incomoda. Meus ânimos, sem contemporizar, elegantemente foram acalmados pela própria vida, minhas expectativas.

De todos os cheiros, aquele da chuva agitada é necessário, o das flores é reconciliação e meu perfume só a ti importa, vida. Os cérebros entorpecidos reduzem o desconhecido ao conhecido e a imaginação, que venero, parte de mim, sem pudor, não perdoa. A explicação da terra, retida em corações pelo menino bom, tarda a clarear o mundo.

Nada é imoral e subverso, a pele chove, os olhos, miúdos e reticentes, cantam a generalidade única e exclusiva da época. Um homem é um homem, não sou nenhum cientista louco, muito menos adoro pileques pra esconder meus fracassos e celebrar minhas vitórias.

Canção do Desexílio da Amazônia

Minha terra tem palmeiras
tem palmeiras de açaí.
Delas, ouro cor de massapê,
não come mais o sabiá.

Sem teu estímulo, o Brasil,
não cai nem se levanta.
Não é água nem é vinho,
nem mais estranho no ninho.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Doralinda

Ai, Doralinda. Onde e por que

quando, assim te vim, um presente divino,

me disseste de teu amor e não de como amar-te?

Ai, Doralinda! Caiu do céu o verde dos teus olhos.




Ai, Doralinda. Você, que eu, mais

velha, não me disse como cantar-te uma ode na tua ressurreição,

me faz chorar pelo dia de amanhã,

a tua embriaguez sem pecado.




Por esta vida já me basta tua necessidade,

sozinho viver num mundo líquido e áureo.

A tormenta açoita o navio, ancorado e de proa ao mar aderna

por aqui nao ter como mais desbravar os sete mares,

corações de teus filhos, Doralinda!



Ai, Doralinda! Sê-de tu e volta pros nossos braços.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

cartilha da cura




As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.



ana cristina cesar

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Tudo tem motivo, nem tudo tem propósito. Enxergar o mundo pelo lado de fora me tornou excerto de uma literatura insensata e baseada em flashes. Quanto realismo fantástico para a árvore ex-carregada de bons frutos!

-Ah, da Conceição, me diga tudo que eu posso saber, Orfeu, pra esse dia sem rumo e essa noite tão clara!

Ressoando as paredes, resiliente, o pranto cavou fundo. Me disse que onde lhe aprouver, qualquer um que o arremate. E leva, porque o mel, correndo o peito extravasado, lhe amarga a vida. Ai, que medo de me sentir mais eu.


-Hoje tudo vale meu verso e meu silêncio
-quero novas e boas, jamais más
-me conta, ai tu, e u é?

-Ai, tu, que queixas que nunca te louv(o) em meu cantar
-ora quero te perguntar, como nova poderei amar
-quem me fez tronar d'onde eu ia
-e que nunca não lhe tivera grado?

domingo, 4 de janeiro de 2009

A vida é a arte do encontro, não posso deixar de pensar no futuro. Há tanto desencontro. Meu poetinha me guia, me canta os versos de uma canção destinada, desde o primeiro inimigo, ao sucesso. Pois, meu Deus, onde, Nosso, está a realidade? E minha, senão de mais ninguém, família de uma única pessoa?

Pra nos dizer de hoje, cadê tudo o que passamos? Tudo que sempre nos fala, tudo que sempre nos ama. E aquilo que mais prezo - me dá conforto e alegria. Tudo vive e pulsa junto, isola-se no ritmo e prolonga-se na continuidade. Nos há todo um comum indivisível.

Meu sangue nos poros fundos do cardíaco ritmo por ti descompassado, me ferve de paixão e de louvor. E faz cantar meus átrios quando teu pensamento, a todo momento, me vem.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Vem sorrir, vem voar, sentir a Deus, amar. Vem ano.

Sente aqui o vento que te trás, senta. Sê flor, sê anjo, que eu te amo, vida.

Pra quem sabe, este é seu. Viver é privilégio. Divino a teu lado estar.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

na China, me contaram assim

Rin encostou-se a porta dupla que dava no jardim e suspirou. Não tinha melhorado, a sensação de não pertencer àquele local só tinha piorado quando os convidados começaram a chegar.

A garota lançou um olhar triste as pessoas que conversavam e dançavam pelo salão antes de suspirar ‘ Se ao menos ele estivesse aqui ’ Ela lançou um olhar rápido em direção aos pais antes de sorrateiramente sair pelas portas duplas no frio ar da noite, abraçou o próprio corpo e esfregou os braços tentando se aquecer. ‘ Eu não deveria me sentir tão só apenas porque ele não está aqui... Não deveria ser tão difícil ’

Ela levantou a cabeça e olhou para o céu cheio de estrelas brilhantes, estremecendo ao sentir o vento frio em sua pele. Não deveria ser tão difícil, mas era. Ele tinha feito parte de sua vida por tanto tempo, sempre a seu lado, sempre conversando, sempre a apoiando a cada passo importante que ela tinha dado.

E agora ele tinha partido e a deixado para caminhar sozinha e tudo parecia tão absurdamente difícil. Mas sabia que conseguiria. ‘ Por ele... Para ele ’

- Sempre anti-social... – Uma conhecida voz masculina soou atrás da garota. Ela se virou para ver o rosto conhecido que sorria para ela – Imaginei que ao menos da sua própria festa você não fugiria.

- Sesshoumaru... – Ela sussurrou o nome dele e fechou os olhos pensando que aquilo não passava de uma ilusão. Ele havia ligado no dia anterior dizendo que não poderia se afastar da faculdade por causa das provas.

- Vai acabar ficando doente com esse vestido e no sereno, Rin – Ele tirou o paletó e colocou sobre os ombros da garota que voltou a abrir os olhos ao sentir o calor do corpo dele ainda no tecido.

- Você disse que não poderia vir... – Ela o viu sorri com suas palavras e sentiu o peso do braço dele sobre seus ombros – Eu pensei que tinha que estudar para as provas finais...

- Uma noite não fará diferença. – Ele deu de ombros e a puxou em direção as portas duplas novamente – Eu não poderia perder seu aniversário de dezesseis anos, poderia?

- Espere, Sesshy... – Ela parou a alguns passos da porta – Eu não quero entrar lá novamente... Não agora...

- Bobagem, Rin. – Sesshoumaru olhou para a garota com um pequeno sorriso nos lábios – Não há nada lá que você deva temer.

- Eu não me sinto bem lá... – Ela baixou a cabeça desanimada – Não deveria ter aceitado uma festa assim... Mas, meus pais insistiram tanto...

- Não pode fugir para sempre, Rin. – O rapaz apertou a mão dela tentando lhe passar confiança – Você está crescendo, não pode ficar se escondendo das pessoas desse modo.

- Eu sei, mas... – Ela olhou através das portas de vidro – Eu não pertenço a isso, Sesshy... simplesmente não me encaixo no meio de todas essas outras pessoas...

- Por que pensa assim?

- Elas são tão mais bonitas e sofisticadas do que eu... – Ela baixou a cabeça e olhou para o vestido rosa pálido – Nem ao menos notaram minha saída.

- Se você se esforça para não ser notada não pode culpar os outros quando isso se torna real, Rin.

- Acho que você tem razão, mas... – Ela levantou a cabeça e olhou para o rapaz a sua frente – Isso não me convence a entrar novamente.

- Quer dizer que fiz essa viagem à toa?

- Como assim?

- Eu deixei meus estudos apenas para vir até aqui e dançar com você em seu aniversário, mas se não quer entrar...

- Vai dançar comigo? – Ela perguntou sem esconder o espanto e baixou a cabeça embaraçada ao ver o sorriso nos lábios dele.

- Eu tinha essa intenção, mas você prefere se esconder dos convidados...

- Vamos entrar agora! – Ela segurou o braço dele e o puxou para dentro do salão ignorando a risada dele.

- Quer dizer que só estava precisando do estimulo certo... – Ele sorriu ao ver o rubor se intensificar no rosto dela enquanto a enlaçava – Fico feliz ao saber que sou o bastante para que você enfrente seus medos.

- Você é a razão para que meus medos desapareçam...

Sesshoumaru apenas sorriu e a abraçou mais forte enquanto os corpos se moviam lentamente no ritmo da música.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Periódico

Cada momento que passa funde uma peça da nossa engenharia. O que circula, leva e trás, o que se esvai, é reposto. Pra viver daqui pra frente, só sabendo mais do ontem e, pra saber do ontem, aguardar.

Esse mundo doce, plácido e com alma, é pra quem, sente.

Bate à minha porta, logo que nasci, um senhor de camisa branca, dá-me um maço de folhas, um abraço e vai. Pra onde, não sei. E esse feixe tinha uma peguena inscrição no canto direito, bem lá em cima - Guia da Vida. Apenas um punhado de folhas, folhas em branco.

Certo dia estive remexendo uma velha caixa de badulaques, encontrei aquele alfarrábio que, diferentemente do restante dos papéis que lá estavam, continuava branco, limpo e não tinha nenhum marca de traças. Uma coisa que me chamou a atenção foi o fato de muitas das folhas, atadas por um cordão de linho, como me foram entregues, estarem escritas. Escritas à mão.

Acabei por ler tudo aquilo, minha curiosidade me instigou. Tudo, até aquele momento, ali estava.

Hoje, com muito mais coisas por ali, o guia tem suas melhores páginas sendo escritas. Quando este de nada me servir, naquele ultimo instante, estará novamente em branco e pronto pra ir pras mãos de mais um andarilho.

domingo, 23 de novembro de 2008

Minas

E mais uma vez tudo voando. Não sei pra que o mundo gira, mais fácil vivermos rodopiando por aí sem destino e com apenas um rumo - a desorientação. Sem cheiros, sem cores, sem tempo pra saber o que fazer e com tempo pra sonhar.

Me diz, ó Pai, me diz, pai, cadê aquilo tudo que eu tinha? Onde estão minhas sinapses?

Sei que não é falta de vontade, sei que não é falta de ambição, mas a confiança não vem e, quando vem, vem acompanhada dum sossego, duma paz e duma calmaria; isso conforta e desespera.

Respostas pré-fabricadas pra descansar o descanso, cansado de tanto nada fazer. Me espanta a capacidade de criar, não as respostas. Me espanta, mais ainda, o descrédito na capacidade e na experiência da nova empreitada.

O lápis corre solto, viva o front da minha vida.

domingo, 2 de novembro de 2008

NEGA FULÔ

Já ouvi, centenas de vezes, esse tipo de pergunta. Hoje mesmo, mais de dez vezes. "Que tem de bom nisso?" Pra saber, é mais que empolgação, mais que ânimo, sentimento e sangue. Nada melhor.

Pra hoje só um comentário, guardado pra ser usado só em caso extremo como esse: "Inglezinho, tu é bom, até demais, só que tá fazendo graça pra criançada de casa."

Brinde ao troféuzinho xôxo do Moleque Ricardo, e palmas à taça cheia de baba que a Fulôzinha ganhou.

sábado, 20 de setembro de 2008

Historinha

Não gosto de narrativas. Não sei contar histórias, mas hoje conheci um moleque que me puxou o pensamento pra junto da meninice do meu pai, queria contar uma bela história. Tem uma meia hora que o conheci, a coceira nas mãos me fez escrever. Não sei contar histórias.

Os ossos aparentes por todo o corpo, magro. Muito magro, mas sadio. Os olhos pretos e a pele morena. Só faltava nadar na enxurrada. Jessé, o menino era Jessé.

Mil novecentos e sessenta, uma pequena e interiorana cidade, casas caiadas e janelas e portas de madeira. Um estilingüe no embornal, pés no chão e os olhos numa viagem espetacular. O terror dos pardais, curiangos, pintassilgos, canarinhos e qualquer bicho que tenha penas e saia do chão. Com poucos vinténs no bolso a diversão se fazia garantida. O caramelo, a broa de milho, a bala de goma colorida e as jujubas, todas compradas na vendinha da esquina com o dinheiro da meninada, dinheiro afanado dos porquinhos dos avós, chacoalhados até que parissem qualquer trocado, presente de aniversário, natal ou o que quer que seja, poupado ao extremo pra fazer fartura.

O cheiro do mato queimado e do feijão do fim da tarde, do jantar da mineirada lá pelas quatro. Já escuro, a dama-da-noite embalava os casais no jardim da igreja. O moleque corria entre os bancos e cutucava as belas moças. Peralta e insensato como a maioria, um espelho da molecada que viu e ouviu Beatles, soube da guerra do Vietnã e foi a mais revolucionária e inovadora.

Essa nostalgia do que não vivi me incomoda, é um sentimento de não sei o quê. Nunca quis ter vivido nessa época, mas fico imaginando como tudo foi, e o que foi, foi mais devagar do que hoje é.
As idéias correm soltas, os pensamentos, vagam, todos vãos. Dúvidas e incertezas colocam-me contra a parede e aquela racionalidade instintiva sempre me dá uma saída.

Um conjunto de experiências, uma reunião de genes, um ser único, humano. O fenótipo de meus pais, um genótipo inigualável, tão único e especial quanto indiferente.

Parte do coletivo mundial, peça fundamental da existência e apenas mais um nesse mar de pecinhas dum brinquedo de montar com infinitas combinações que, quase sempre, se encaixam.

Novas portas sempre à nossa frente nos incitam a descobrir, inventar, reinventar e sempre desafiar o incerto, tantas vezes perigoso.

Agradeço à meus pais, amigos e todos à minha volta por quem sou, oro à Deus por mais um dia.

A vida não nos impõe desafios, nos ensina a optar e enxergar novas oportunidades onde muitos vêem apenas o fim da estrada.

Idéias soltas e pensamentos vãos, idéias novas e pensamentos firmes, frutos da mente de um jovem idealista.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Eyecrafted

Não, nada disso. Não sou desses que falam do passado com saudades, nem da infância querendo à ela voltar. Não falo. Não, passado. Falo de ontem.

Por um momento senti um dos cheiros mais marcantes de minha molequice na impiedosa São Paulo, o ventinho bateu e trouxe um pouquinho dos flamboyants e dos ipês amarelos. Isso foi hoje. Bem verdade que de tarde, mas foi hoje. Foi-se.

Saí de casa num dia que nada me prometia, saí e andei. Na casa do herói setentão, o avô, e da, mais ainda, heróica avó, o perfume do café coado às seis chegou nas portinholas da energia. Tudo amarelado, mesmo o dia nublado. A luz que entrava pelo vidro pé-de-moleque da janela da cozinha me fizera pequenino, as fraldas voltaram e aqueles passinhos vieram-me num lance de segundo. Vinte meses, e olhem lá se eram tantos, e uma mente sã que, de joelhos, agradeço por conservar até hoje.

A tarde veio, era um daqueles dias de maio, em agosto, onde o frio e o calor do sol, de um céu límpido, travam épicas batalhas. O tempo pedia, meu corpo obedecia. Há tempos não estava naquele lugar. Aquela praça onde cresci e muita coisa pude aprender me chamou, era quase uma despedida. Tão logo puder ver o vento, ouvir a luz e ter o som das maracanãs só para mim, nesse lugar, bem e mal dito, hei de abundar-me.

Nunca, por mais que alguém assim deseje, esqueço da noite. Do alto, onde a dimensão de tudo muda, meus olhos abocanharam toda a igreja. Chuvinha de final de tarde, sopra vento, bate vento e mais uma vez essas bolinhas de vidro puderam fotografar esse lindo postal. Posteridade egoísta.

Perfeito ou não. Perfeito e eu. Dia, sol, chuva, vento, luz, alguém aqui se despede.

domingo, 3 de agosto de 2008

Diz-se da vida, é vã, fugaz, com sentido a descobrir. Vê-se a vida vã, fugaz, sem sentido para muitos. Única para mim.

Mães, pais, filhos, irmãos, primos, desconhecidos, pessoas à escolher numa imensidão.

Olhei meus pés e vi onde pisam. Atrás havia as marcas desses anos que se passaram, marcas da papete pequenina e do coturno de agora.

As pedras do calçamento dessas ruas me remetem à um tempo mágico com dias que não vivi, sonhos que não sonhei, mulheres que não tive, lugares que não fui e eu mesmo sem a tecnologia de hoje mas com a modernidade de sempre.

Eiras, beiras, barrados, muros de pedra. Portas e janelas guardam segredos que hoje todos poderíamos saber. As cortinas mostram sombras à luz de lamparinas, linho cru e bordados.

Já é domingo, de volta ao mundo real. Boa noite, São Paulo.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

HP

Mesmo aquele momento não mais me colocava medo. Tudo, apesar de desconhecido e ao mesmo tempo conhecido, ora clareavam, ora escureciam. Fugi de um bando de peles-vermelha e, ainda com empáfia, podia me dar ao luxo de parar um pouco e descansar enquanto as flechadas vinham certeiras. Mal recebia uma, atirava-a de volta. Nenhuma veio em cheio. Nenhuma jamais virá em cheio.

Aquele bando de seres estranhos vinham acompanhados de um fog ou de uma xícara de chocolate.
Integralmente, não se sabe de mais nada. Tangencía-se o mundo, dá-se os pontos críticos. Essa é a função da vida.

domingo, 15 de junho de 2008

No limite

"Todo dia você vai ao limite, dá a circunstâcia, e você pensa que tem um limite. Você vai ao limite, toca o limite, e você pensa: este é o limite. Assim que você toca esse limite, algo acontece em você, repentinamente você pode ir um pouquinho mais adiante, com a força da sua mente, sua determinação, seu instinto. A experiência é boa. Você pode voar muito alto."

Ayrton Senna da Silva

sábado, 14 de junho de 2008

Distante...

Com tantos motivos, com tanta coisa, podia ficar longe dela, para sempre. Só o céu nos separa, só a vida nos guia, nem Deus sabe pronde, eu, menos ainda.

Aqui no cais ficam meus navios, de proa ao mar, ancorados e prontos para partir. Lá não tem mar, lá não tem nada, lá encontro-me com minha alma, meu coração. Meu corpo, hoje, perdido num mar frio e cheio de rochedos, já pôde, por diversas vezes, encontrar o brilho das estrelas negras apenas olhando através das escotilhas desse alto barco, sepultado onde, os pracinhas, de braços cruzados, deixam de lado seus deveres e não protegem à ninguém.

O equador não somos nós, é uma dura batalha contra nós mesmos, contra nosso passado, futuro e à favor de outros que nem ao menos sabem quem somos. Navego para o norte e, depois de traspassados os dois mundos, mais uma longa jornada de mesma duração até meu porto-seguro.

Subo ao nono pico de uma cordilheira de catorze. Feliz. Mais feliz ao pé da serra, num pequeno degrau, recostado na pedra férrea que, coberta de neve, esconde o óxido de anos que ainda correm.

Flores

Se um dia eu abrir os braços, tenho medo de voar. Medo que o vento me leve a onde eu nunca fui, nunca pisei, ou jamais estarei.
Mas quem sabe o medo não passe. Pode ser uma tremenda aventura. Navios e canhões. Constelações e piratas na galáxia.
E talvez pousar num pequeno planeta, onde há apenas flores. Nem humanos, nem outras formas de vida. Apenas flores.
E se elas falassem?! Quem sabe elas me diriam que de longe observam a terra. E uma delas me pergunte o que há lá que a faz tão bonita.
Eu irei dizer que há homens, que há rios e oceanos.
E ela, talvez, torne a me perguntar o que há lá que a faz tão bonita?!
E eu direi que há animais selvagens e espécimes que o homem ainda nem ousou descobrir.
E novamente ela me fará a mesma pergunta.
Então responderei que há construções magníficas, muito maiores que o planeta das flores.
Enfim, perguntarei, quase sem paciência, o que faz aquele planeta onde ela vive tão bonito.. .
E ela me dirá: Flores, apenas flores.

sábado, 12 de abril de 2008


Sempre sonhado, aquele mundo tornou-se realidade. Tive a mesma sensação de, quando criança, pela primeira vez, pude pilotar uma bicicleta sem rodinhas auxiliares. Estava louco atrás de tudo, queria conhecer tudo em pouquíssimo tempo, queria ser, além de um espectador, um daqueles homens que olhavam para tudo e tinham aquilo como uma coisa normal.


Os carros, os boxes, pneus, bombas de combustível, correria e muito barulho. Ahhh, se esse dia fosse todo dia. Se todo dia pudesse ter esse magnetismo, seria tudo tão diferente.


Os sons, a luminosidade, cada detalhe, tudo marcante ao extremo, viraram tatuagem.


Podia sim botar tudo a perder, me enlouquecer e, num dia qualquer, do nono andar voar.


Quero esses dias todos os dias, quero essas horas na minha manhã. Quero esse sol de hoje em diante junto da chuva. Quero a chuva junto do sol.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

E a Vida é uma Caixinha de Surpresas...

Era uma vez três grandes amigos, os quais possuíam grande ideais. Compartilhavam juntos seus sonhos futuros, suas ambições, seus desejos, seus objetivos. Cada um com ideais diferentes, cada qual com o mesmo intuito: a permanência da forte a verdadeira amizade.

A convivência era praticamente diária, o entrosamento quase cirúrgico. Tanto que um sabia perfeitamente quando outro estava em apuros, passando por dificuldades que a vida lhes impõe todos os dias. E, juntos, venciam todas as batalhas. Tempo. O tempo passou, a vida passou, os dias passaram, o tempo passou. O tempo. Este mesmo tempo que ajuntou o "Trio Ternura" caprichosamente o esfacelou. Era tarde quando foram perceber isso. Assim como o Tempo, a Vida impôs aos três rumos diferentes, já imaginados, já idealizados, porém nunca fielmente acreditados.

Era difícil perceber que aquela amizade se tornaria uma prosaica memória de foto. Todos sabiam que este momento iria chegar, mas nenhum deles queria acreditar que isso tornaria-se verdade. Foi o que aconteceu. Entretanto, caro leitor, caso você ache que está tudo por um fio, engana-se completamente. Aquela amizade ainda persiste, mesmo que por suspiros cadavéricos. Tenha a certeza de que enquanto um tiver forças, todos permaneceram unidos. Lembrem-se: A batalha ainda não acabou.

O tempo

Le moulin gira. Le moulin vira. E o mundo gira.

Sobe, desce, e desce, e sobe. Não sei de onde vem esse vento, vento que move as pás e engrenagens tão pesadas do moinho.

Vivo preso nas pás, subo e desço, desço e subo. Vejo o longe, o perto, não vejo. Assim peço à meu grande Amigo: muitos dias mais pra minha vida, pra eu ver, ouvir, sentir, cantar, compor. Amar.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Dez meses

Aquele sorriso, aquelas palavras, aqueles gestos, tão ausentes nos últimos dez meses. A causa? O que mesmo? Ah, sim, uma briguinha boba. Por motivos idiotas. E agora volta tudo à tona. Tudo que estava debaixo de panos mornos durante os últimos dez meses.

O mesmo frio na barriga, o mesmo tremor nas mãos, a mesma ansiedade por uma resposta, a mesma satisfação, definitivamente, nada mudou.

E as pessoas gostam de dizer que o tempo cura tudo não é mesmo? Pois é, mas deixar para o tempo curar é a mesma coisa de varrer a sujeira pra debaixo do tapete, esconde, mas ela ainda existe. E a sujeirinha que eu varri pra debaixo do tapete ainda existe, ainda existe.

E os dez meses foram longos.
De muita angústia e sofrimento.
Dez meses.

terça-feira, 25 de março de 2008

Cores, letras e sons.

Um mundo em três cores, vinte e três letras, sete notas musicais, infinitas pessoas, ar e água. Mundos distantes e vizinhos, paralelos e transversais.

Vê-se da porta da sala pássaros pretos na calçada e pombas brancas nos galhos das árvores da praça. Da janela ao lado só um campo cheio de rosas amarelas. No segundo andar, no quarto da sacada, temos a visão de um lago. De dentro do átrio fechado, um mundo cúbista, caótico.

E eu, aqui, sentado em frente um monte de papéis, vejo apenas um mundo, branco, com linhas, rabiscos e pó de borracha.É o meu mundo, o mundo da criação, da realidade e da fantasia, o mundo que um dia será real.

domingo, 23 de março de 2008

Tudo aconteceu, passou e do mesmo modo como veio, áo invés de fluir, continuou. Me doía saber de tudo e nada poder fazer, não me esquecia de tudo e o mundo corria de forma a me lembrar, cada dia mais, de sua existência.

Todo dia era a mesma coisa, acordava e lançava meus olhos fora da órbita, procurava um esconderijo para eles e me deparava com a mesma imagem. Vermelho, tudo vermelho e seus cromados. Amava ver aquilo, mas logo me doía e me fazia repensar a vida e o que havia passado nos últimos meses. Chorar não chorei.

Via e desvia, olhava e desolhava. Decidi que não me faria mais mau caráter do que já estava sendo. O mundo volta a sorrir depois de hoje.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Paz

De hoje em diante há um novo decreto no reino do grande imperador NonJustus: só terá paz quem tiver dinheiro.

E como NonJustus é muito justo, dividiu a fortuna do reino entre os súditos e todos tiveram paz, tiveram?

Fidel, Fidel, ainda bem que tudo terminou, bem ou mal, terminou. Melhor do que se podia esperar, e terminou.

Por aqui, vejo um mundo diferente e, ainda não sei se foi por bem ou por mal que veio sem dinheiro, com paz. Obrigado Jesus, obrigado Inconfidentes, obrigado democracia que nos dá a oportunidade de criarmos nossa própria paz.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Hoje, estudando um pouco de física moderna depois da aula, aprofundei-me nos mistérios do tempo-espaço e nas fabulosas idéias de visionários e criadores de ficção. Buracos negros, densidade infinita, nona dimensão, quebra da linearidade do tempo.

Sons, luzes, acontecimentos, guerras, fatos diversos, repetidos e ao mesmo tempo únicos perdidos no passado ou guardados em gavetas só esperando para serem abertas e reviradas?

Pensa-se num mundo diferente, em poder consertar tudo o que se fez de errado, só em notícias boas, em previnir ataques, guerras, epidemias, mortes, em fazer espetáculos sempre perfeitos, nao ter erros nem deslizes, e tornar o mundo sem defeitos, sem defeitos mas sem expectativas nem curiosidade, já que tudo acontece da forma certa.

Os erros trazem idéias novas, fazem os seres pensarem ou agirem instintivamente de outra forma, os erros ensinam e marcam a vida de forma a contornarmos todos os calos e cicatrizes criados pelas atitudes e pensamentos que não surtiram o efeitos esperado.

Seria fantástico poder voltar no tempo, rever as pessoas que perdemos, não estar naquele lugar em determinado momento, fazer coisas que não fizemos e refazer as feitas de modo a torná-las mais proveitosas e interessantes ao nosso ver. Provavelmente seria algo muito complicado e difícil de lidar, já que não sabemos quais seriam as implicações causadas no futuro pela alteração do passado. Também, pra que mudar o que se foi? Deveríamos assumir as atitudes e lidar com as conseqüencias.

A vida é feita de erros e acertos, mais erros que acertos. Não deveríamos desejar voltar ao passado, não deveríamos querer mudar o que já se foi. Deveríamos sim, a partir de esforços próprios e no presente, criar um futuro melhor.

sábado, 15 de março de 2008

Hoje

Eu queria hoje ser uma cadeira, sem nada a dizer, sem nada a mudar, sem nada a acrescentar.

Eu queria hoje ser uma cadeira, muda e calada, que só ouve e não precisa se mover.

Eu queria hoje ser uma cadeira onde pessoas sentassem.... sentassem?

Eu não queria ser uma cadeira nunca, não quero ninguém nem nada sobre mim.

quarta-feira, 12 de março de 2008

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A vagabunda só me fez esperar, e hoje digo, amei por nós dois. Tantas juras, tantos mimos, tantos orgasmos e aquela postura apaixonante. Por que tudo, em vez de se desenrolar, virou um novêlo?

-Joga para o alto tudo, cuspa nos pés do papa e taca pedras à base da cruz. Grita tudo o que lhe vier em pensamento, por mais selvagem que lhe possa parecer.

Aquelas juras, não mais podem crer. Aqueles mimos, ficaram no íntimo de nós. Aqueles orgasmos, fingidos! E a mesma postura.

Bate a esperança à porta de casa e tudo escurece. Ainda bem que se foi. E frita meus neurônios e ferve meu sangue. Não é ódio, é orgulho, é amor próprio.

Nesse momento

Sons e luzes, fontes de pensamentos, ações e reações, chamam minha mente ao fundo e meus pensamentos à tona.

Cores, flores, cheiros e medos, caminhos que não tenho como seguir, e minha cidade jamais me mostrará novamente.

terça-feira, 11 de março de 2008

Olhei pela janela e descobri o mundo. Não tinha certeza de mais nada e só o que queria era o conforto de seu abraço. Podia ou não, vez ou outra, dar-me o luxo de sair para jantar com algum espírito que estivesse vagando por aqui. Era uma companhia silenciosa, muda e fria, que me fazia muito bem.

Mesmo com a necessidade da presença de alguém conhecido fazia-me de forte, e forte não era. Sorri, e deixei escapar uma lágrima bem gorda e escandalosa quando olhei pelo olho mágico da porta e descobri, do outro lado não havia ninguém.

Para esse mundo existem diferentes vinis, um de blues, outro de rock, um de clássicos e outro de clássicas, aquele de reggae. Hoje, um disco que há muito não tocava e pensava estar descartado apareceu em minha jukebox. Uma voz doce e feminina cantava Killing me softly whit his song e me embalava em profunda melancolia.

Imaginei Frida Calo junto de mim e um drinque a ser bebido por nós na mesma taça. Aquela mulher feia, com buço marcante, que tinha tantos mistérios quanto o mundo à minha volta.

Ninguém, nem mesmo eu, poderia me fazer acreditar que não estava ficando louco. Meus pensamentos criaram uma construção enorme, de pedra e cimento, assinada por Gaudí e musicada por Bach. Construção bela e caótica, inacabada e perfeita, era o que me foi projetado.

A fluidez que me trouxera até aqui, agora não mais se apresentava. Parecia-se mais com um monte de miçangas coloridas em cabelos revoltos. Sem rumo buscava minha consciência.

Adormeci e sonhei com o mundo onde usava fraldas e sentia o cheiro do café coado por vovó pontualmente aos cinco minutos para as quinze. O gosto dos pães e quitandas de minas, a sombra da parreira no quintal, as tardes chuvosas com cheiro de terra e as ensolaradas onde os bem-te-vis fanfarrões aprontavam mil e duas peripécias.

Acordei e estava junto dos prédios e do fim do mundo. Longe dos corações e perto das mansões, onde estão as expectativas. Estava em fuga do resto de mim.

-Pára de se lamentar, pára de sonhar com o que já se foi. Aconchega teu eu dentro de ti mesmo, vive e não reclama, essa é tua sina.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Portas e janelas abertas, ventilador ligado e muitas pessoas; trinta, mais de trinta graus, pessoas. O calor vencia os artifícios e os bons modos estavam bem esquecidos; mãos agitadas, cabelos desgandanhados, pés fora dos calçados, marcas escuras nas camisetas que indicavam suor.

Competia ao mestre a liberação dos estudantes e conseqüente alívio da tensão e ansiedade causados pela hipertermia corporal que, àquele momento, causava incômodo e desnorteio.

As mulheres, poucas e formosas, com o colo de fora, respingavam como se, frenéticamente, estivessem com homens e estes cheiravam à cavalos molhados.

O sol impiedoso, açoitava o lombo das árvores e ,quando chegasse meio dia, secaria até mesmo as mais verdes folhas do topo. Da janela, via-se os galhos que dissoravam e murchavam. Os pássaros que refrescavam-se à mangueira respingante, travavam épicas batalhas pelas poucas gotas de que não tinham nem sequer tempo de escorrer pelo chão, já que viravam vapor quase instantaneamente.

Confrontava meu desconforto à felicidade dos lagartos e mal podia tentar entender o que gerava tamanha satisfação naqueles seres asquerosos e ao mesmo tempo poéticos.
Quem dera, José, Maria, eu e quem quer que fosse, pudéssemos estar num hotel de gelo no norte da Europa.

Viva o povo das terras altas, onde não há calor como esse, viva as praias, açudes e piscinas, a cachaça, a boa música, as pernas, peitos, bundas, o biquíni e o top-less. Viva o fim da aula e a água gelada do bebedouro.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Diz-se de tudo o que é belo, da alma surgiu, de Deus é filho.
Da vida tem-se o mundo a correr e as pedras, areia tornarem. O vidro, água e sal, cem anos não bastam, nem cem graus.
Correr sem sentido, olhar para o abismo, berrar e, contudo, não ouvir-se.
As putas se remexem e ouro fazem com as coxas, pencas de filhos aos ventos e ao crime, não são, nem serão, futuro de pátria alguma.