segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Eyecrafted

Não, nada disso. Não sou desses que falam do passado com saudades, nem da infância querendo à ela voltar. Não falo. Não, passado. Falo de ontem.

Por um momento senti um dos cheiros mais marcantes de minha molequice na impiedosa São Paulo, o ventinho bateu e trouxe um pouquinho dos flamboyants e dos ipês amarelos. Isso foi hoje. Bem verdade que de tarde, mas foi hoje. Foi-se.

Saí de casa num dia que nada me prometia, saí e andei. Na casa do herói setentão, o avô, e da, mais ainda, heróica avó, o perfume do café coado às seis chegou nas portinholas da energia. Tudo amarelado, mesmo o dia nublado. A luz que entrava pelo vidro pé-de-moleque da janela da cozinha me fizera pequenino, as fraldas voltaram e aqueles passinhos vieram-me num lance de segundo. Vinte meses, e olhem lá se eram tantos, e uma mente sã que, de joelhos, agradeço por conservar até hoje.

A tarde veio, era um daqueles dias de maio, em agosto, onde o frio e o calor do sol, de um céu límpido, travam épicas batalhas. O tempo pedia, meu corpo obedecia. Há tempos não estava naquele lugar. Aquela praça onde cresci e muita coisa pude aprender me chamou, era quase uma despedida. Tão logo puder ver o vento, ouvir a luz e ter o som das maracanãs só para mim, nesse lugar, bem e mal dito, hei de abundar-me.

Nunca, por mais que alguém assim deseje, esqueço da noite. Do alto, onde a dimensão de tudo muda, meus olhos abocanharam toda a igreja. Chuvinha de final de tarde, sopra vento, bate vento e mais uma vez essas bolinhas de vidro puderam fotografar esse lindo postal. Posteridade egoísta.

Perfeito ou não. Perfeito e eu. Dia, sol, chuva, vento, luz, alguém aqui se despede.

domingo, 3 de agosto de 2008

Diz-se da vida, é vã, fugaz, com sentido a descobrir. Vê-se a vida vã, fugaz, sem sentido para muitos. Única para mim.

Mães, pais, filhos, irmãos, primos, desconhecidos, pessoas à escolher numa imensidão.

Olhei meus pés e vi onde pisam. Atrás havia as marcas desses anos que se passaram, marcas da papete pequenina e do coturno de agora.

As pedras do calçamento dessas ruas me remetem à um tempo mágico com dias que não vivi, sonhos que não sonhei, mulheres que não tive, lugares que não fui e eu mesmo sem a tecnologia de hoje mas com a modernidade de sempre.

Eiras, beiras, barrados, muros de pedra. Portas e janelas guardam segredos que hoje todos poderíamos saber. As cortinas mostram sombras à luz de lamparinas, linho cru e bordados.

Já é domingo, de volta ao mundo real. Boa noite, São Paulo.