terça-feira, 30 de dezembro de 2008

na China, me contaram assim

Rin encostou-se a porta dupla que dava no jardim e suspirou. Não tinha melhorado, a sensação de não pertencer àquele local só tinha piorado quando os convidados começaram a chegar.

A garota lançou um olhar triste as pessoas que conversavam e dançavam pelo salão antes de suspirar ‘ Se ao menos ele estivesse aqui ’ Ela lançou um olhar rápido em direção aos pais antes de sorrateiramente sair pelas portas duplas no frio ar da noite, abraçou o próprio corpo e esfregou os braços tentando se aquecer. ‘ Eu não deveria me sentir tão só apenas porque ele não está aqui... Não deveria ser tão difícil ’

Ela levantou a cabeça e olhou para o céu cheio de estrelas brilhantes, estremecendo ao sentir o vento frio em sua pele. Não deveria ser tão difícil, mas era. Ele tinha feito parte de sua vida por tanto tempo, sempre a seu lado, sempre conversando, sempre a apoiando a cada passo importante que ela tinha dado.

E agora ele tinha partido e a deixado para caminhar sozinha e tudo parecia tão absurdamente difícil. Mas sabia que conseguiria. ‘ Por ele... Para ele ’

- Sempre anti-social... – Uma conhecida voz masculina soou atrás da garota. Ela se virou para ver o rosto conhecido que sorria para ela – Imaginei que ao menos da sua própria festa você não fugiria.

- Sesshoumaru... – Ela sussurrou o nome dele e fechou os olhos pensando que aquilo não passava de uma ilusão. Ele havia ligado no dia anterior dizendo que não poderia se afastar da faculdade por causa das provas.

- Vai acabar ficando doente com esse vestido e no sereno, Rin – Ele tirou o paletó e colocou sobre os ombros da garota que voltou a abrir os olhos ao sentir o calor do corpo dele ainda no tecido.

- Você disse que não poderia vir... – Ela o viu sorri com suas palavras e sentiu o peso do braço dele sobre seus ombros – Eu pensei que tinha que estudar para as provas finais...

- Uma noite não fará diferença. – Ele deu de ombros e a puxou em direção as portas duplas novamente – Eu não poderia perder seu aniversário de dezesseis anos, poderia?

- Espere, Sesshy... – Ela parou a alguns passos da porta – Eu não quero entrar lá novamente... Não agora...

- Bobagem, Rin. – Sesshoumaru olhou para a garota com um pequeno sorriso nos lábios – Não há nada lá que você deva temer.

- Eu não me sinto bem lá... – Ela baixou a cabeça desanimada – Não deveria ter aceitado uma festa assim... Mas, meus pais insistiram tanto...

- Não pode fugir para sempre, Rin. – O rapaz apertou a mão dela tentando lhe passar confiança – Você está crescendo, não pode ficar se escondendo das pessoas desse modo.

- Eu sei, mas... – Ela olhou através das portas de vidro – Eu não pertenço a isso, Sesshy... simplesmente não me encaixo no meio de todas essas outras pessoas...

- Por que pensa assim?

- Elas são tão mais bonitas e sofisticadas do que eu... – Ela baixou a cabeça e olhou para o vestido rosa pálido – Nem ao menos notaram minha saída.

- Se você se esforça para não ser notada não pode culpar os outros quando isso se torna real, Rin.

- Acho que você tem razão, mas... – Ela levantou a cabeça e olhou para o rapaz a sua frente – Isso não me convence a entrar novamente.

- Quer dizer que fiz essa viagem à toa?

- Como assim?

- Eu deixei meus estudos apenas para vir até aqui e dançar com você em seu aniversário, mas se não quer entrar...

- Vai dançar comigo? – Ela perguntou sem esconder o espanto e baixou a cabeça embaraçada ao ver o sorriso nos lábios dele.

- Eu tinha essa intenção, mas você prefere se esconder dos convidados...

- Vamos entrar agora! – Ela segurou o braço dele e o puxou para dentro do salão ignorando a risada dele.

- Quer dizer que só estava precisando do estimulo certo... – Ele sorriu ao ver o rubor se intensificar no rosto dela enquanto a enlaçava – Fico feliz ao saber que sou o bastante para que você enfrente seus medos.

- Você é a razão para que meus medos desapareçam...

Sesshoumaru apenas sorriu e a abraçou mais forte enquanto os corpos se moviam lentamente no ritmo da música.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Periódico

Cada momento que passa funde uma peça da nossa engenharia. O que circula, leva e trás, o que se esvai, é reposto. Pra viver daqui pra frente, só sabendo mais do ontem e, pra saber do ontem, aguardar.

Esse mundo doce, plácido e com alma, é pra quem, sente.

Bate à minha porta, logo que nasci, um senhor de camisa branca, dá-me um maço de folhas, um abraço e vai. Pra onde, não sei. E esse feixe tinha uma peguena inscrição no canto direito, bem lá em cima - Guia da Vida. Apenas um punhado de folhas, folhas em branco.

Certo dia estive remexendo uma velha caixa de badulaques, encontrei aquele alfarrábio que, diferentemente do restante dos papéis que lá estavam, continuava branco, limpo e não tinha nenhum marca de traças. Uma coisa que me chamou a atenção foi o fato de muitas das folhas, atadas por um cordão de linho, como me foram entregues, estarem escritas. Escritas à mão.

Acabei por ler tudo aquilo, minha curiosidade me instigou. Tudo, até aquele momento, ali estava.

Hoje, com muito mais coisas por ali, o guia tem suas melhores páginas sendo escritas. Quando este de nada me servir, naquele ultimo instante, estará novamente em branco e pronto pra ir pras mãos de mais um andarilho.

domingo, 23 de novembro de 2008

Minas

E mais uma vez tudo voando. Não sei pra que o mundo gira, mais fácil vivermos rodopiando por aí sem destino e com apenas um rumo - a desorientação. Sem cheiros, sem cores, sem tempo pra saber o que fazer e com tempo pra sonhar.

Me diz, ó Pai, me diz, pai, cadê aquilo tudo que eu tinha? Onde estão minhas sinapses?

Sei que não é falta de vontade, sei que não é falta de ambição, mas a confiança não vem e, quando vem, vem acompanhada dum sossego, duma paz e duma calmaria; isso conforta e desespera.

Respostas pré-fabricadas pra descansar o descanso, cansado de tanto nada fazer. Me espanta a capacidade de criar, não as respostas. Me espanta, mais ainda, o descrédito na capacidade e na experiência da nova empreitada.

O lápis corre solto, viva o front da minha vida.

domingo, 2 de novembro de 2008

NEGA FULÔ

Já ouvi, centenas de vezes, esse tipo de pergunta. Hoje mesmo, mais de dez vezes. "Que tem de bom nisso?" Pra saber, é mais que empolgação, mais que ânimo, sentimento e sangue. Nada melhor.

Pra hoje só um comentário, guardado pra ser usado só em caso extremo como esse: "Inglezinho, tu é bom, até demais, só que tá fazendo graça pra criançada de casa."

Brinde ao troféuzinho xôxo do Moleque Ricardo, e palmas à taça cheia de baba que a Fulôzinha ganhou.

sábado, 20 de setembro de 2008

Historinha

Não gosto de narrativas. Não sei contar histórias, mas hoje conheci um moleque que me puxou o pensamento pra junto da meninice do meu pai, queria contar uma bela história. Tem uma meia hora que o conheci, a coceira nas mãos me fez escrever. Não sei contar histórias.

Os ossos aparentes por todo o corpo, magro. Muito magro, mas sadio. Os olhos pretos e a pele morena. Só faltava nadar na enxurrada. Jessé, o menino era Jessé.

Mil novecentos e sessenta, uma pequena e interiorana cidade, casas caiadas e janelas e portas de madeira. Um estilingüe no embornal, pés no chão e os olhos numa viagem espetacular. O terror dos pardais, curiangos, pintassilgos, canarinhos e qualquer bicho que tenha penas e saia do chão. Com poucos vinténs no bolso a diversão se fazia garantida. O caramelo, a broa de milho, a bala de goma colorida e as jujubas, todas compradas na vendinha da esquina com o dinheiro da meninada, dinheiro afanado dos porquinhos dos avós, chacoalhados até que parissem qualquer trocado, presente de aniversário, natal ou o que quer que seja, poupado ao extremo pra fazer fartura.

O cheiro do mato queimado e do feijão do fim da tarde, do jantar da mineirada lá pelas quatro. Já escuro, a dama-da-noite embalava os casais no jardim da igreja. O moleque corria entre os bancos e cutucava as belas moças. Peralta e insensato como a maioria, um espelho da molecada que viu e ouviu Beatles, soube da guerra do Vietnã e foi a mais revolucionária e inovadora.

Essa nostalgia do que não vivi me incomoda, é um sentimento de não sei o quê. Nunca quis ter vivido nessa época, mas fico imaginando como tudo foi, e o que foi, foi mais devagar do que hoje é.
As idéias correm soltas, os pensamentos, vagam, todos vãos. Dúvidas e incertezas colocam-me contra a parede e aquela racionalidade instintiva sempre me dá uma saída.

Um conjunto de experiências, uma reunião de genes, um ser único, humano. O fenótipo de meus pais, um genótipo inigualável, tão único e especial quanto indiferente.

Parte do coletivo mundial, peça fundamental da existência e apenas mais um nesse mar de pecinhas dum brinquedo de montar com infinitas combinações que, quase sempre, se encaixam.

Novas portas sempre à nossa frente nos incitam a descobrir, inventar, reinventar e sempre desafiar o incerto, tantas vezes perigoso.

Agradeço à meus pais, amigos e todos à minha volta por quem sou, oro à Deus por mais um dia.

A vida não nos impõe desafios, nos ensina a optar e enxergar novas oportunidades onde muitos vêem apenas o fim da estrada.

Idéias soltas e pensamentos vãos, idéias novas e pensamentos firmes, frutos da mente de um jovem idealista.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Eyecrafted

Não, nada disso. Não sou desses que falam do passado com saudades, nem da infância querendo à ela voltar. Não falo. Não, passado. Falo de ontem.

Por um momento senti um dos cheiros mais marcantes de minha molequice na impiedosa São Paulo, o ventinho bateu e trouxe um pouquinho dos flamboyants e dos ipês amarelos. Isso foi hoje. Bem verdade que de tarde, mas foi hoje. Foi-se.

Saí de casa num dia que nada me prometia, saí e andei. Na casa do herói setentão, o avô, e da, mais ainda, heróica avó, o perfume do café coado às seis chegou nas portinholas da energia. Tudo amarelado, mesmo o dia nublado. A luz que entrava pelo vidro pé-de-moleque da janela da cozinha me fizera pequenino, as fraldas voltaram e aqueles passinhos vieram-me num lance de segundo. Vinte meses, e olhem lá se eram tantos, e uma mente sã que, de joelhos, agradeço por conservar até hoje.

A tarde veio, era um daqueles dias de maio, em agosto, onde o frio e o calor do sol, de um céu límpido, travam épicas batalhas. O tempo pedia, meu corpo obedecia. Há tempos não estava naquele lugar. Aquela praça onde cresci e muita coisa pude aprender me chamou, era quase uma despedida. Tão logo puder ver o vento, ouvir a luz e ter o som das maracanãs só para mim, nesse lugar, bem e mal dito, hei de abundar-me.

Nunca, por mais que alguém assim deseje, esqueço da noite. Do alto, onde a dimensão de tudo muda, meus olhos abocanharam toda a igreja. Chuvinha de final de tarde, sopra vento, bate vento e mais uma vez essas bolinhas de vidro puderam fotografar esse lindo postal. Posteridade egoísta.

Perfeito ou não. Perfeito e eu. Dia, sol, chuva, vento, luz, alguém aqui se despede.

domingo, 3 de agosto de 2008

Diz-se da vida, é vã, fugaz, com sentido a descobrir. Vê-se a vida vã, fugaz, sem sentido para muitos. Única para mim.

Mães, pais, filhos, irmãos, primos, desconhecidos, pessoas à escolher numa imensidão.

Olhei meus pés e vi onde pisam. Atrás havia as marcas desses anos que se passaram, marcas da papete pequenina e do coturno de agora.

As pedras do calçamento dessas ruas me remetem à um tempo mágico com dias que não vivi, sonhos que não sonhei, mulheres que não tive, lugares que não fui e eu mesmo sem a tecnologia de hoje mas com a modernidade de sempre.

Eiras, beiras, barrados, muros de pedra. Portas e janelas guardam segredos que hoje todos poderíamos saber. As cortinas mostram sombras à luz de lamparinas, linho cru e bordados.

Já é domingo, de volta ao mundo real. Boa noite, São Paulo.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

HP

Mesmo aquele momento não mais me colocava medo. Tudo, apesar de desconhecido e ao mesmo tempo conhecido, ora clareavam, ora escureciam. Fugi de um bando de peles-vermelha e, ainda com empáfia, podia me dar ao luxo de parar um pouco e descansar enquanto as flechadas vinham certeiras. Mal recebia uma, atirava-a de volta. Nenhuma veio em cheio. Nenhuma jamais virá em cheio.

Aquele bando de seres estranhos vinham acompanhados de um fog ou de uma xícara de chocolate.
Integralmente, não se sabe de mais nada. Tangencía-se o mundo, dá-se os pontos críticos. Essa é a função da vida.

domingo, 15 de junho de 2008

No limite

"Todo dia você vai ao limite, dá a circunstâcia, e você pensa que tem um limite. Você vai ao limite, toca o limite, e você pensa: este é o limite. Assim que você toca esse limite, algo acontece em você, repentinamente você pode ir um pouquinho mais adiante, com a força da sua mente, sua determinação, seu instinto. A experiência é boa. Você pode voar muito alto."

Ayrton Senna da Silva

sábado, 14 de junho de 2008

Distante...

Com tantos motivos, com tanta coisa, podia ficar longe dela, para sempre. Só o céu nos separa, só a vida nos guia, nem Deus sabe pronde, eu, menos ainda.

Aqui no cais ficam meus navios, de proa ao mar, ancorados e prontos para partir. Lá não tem mar, lá não tem nada, lá encontro-me com minha alma, meu coração. Meu corpo, hoje, perdido num mar frio e cheio de rochedos, já pôde, por diversas vezes, encontrar o brilho das estrelas negras apenas olhando através das escotilhas desse alto barco, sepultado onde, os pracinhas, de braços cruzados, deixam de lado seus deveres e não protegem à ninguém.

O equador não somos nós, é uma dura batalha contra nós mesmos, contra nosso passado, futuro e à favor de outros que nem ao menos sabem quem somos. Navego para o norte e, depois de traspassados os dois mundos, mais uma longa jornada de mesma duração até meu porto-seguro.

Subo ao nono pico de uma cordilheira de catorze. Feliz. Mais feliz ao pé da serra, num pequeno degrau, recostado na pedra férrea que, coberta de neve, esconde o óxido de anos que ainda correm.

Flores

Se um dia eu abrir os braços, tenho medo de voar. Medo que o vento me leve a onde eu nunca fui, nunca pisei, ou jamais estarei.
Mas quem sabe o medo não passe. Pode ser uma tremenda aventura. Navios e canhões. Constelações e piratas na galáxia.
E talvez pousar num pequeno planeta, onde há apenas flores. Nem humanos, nem outras formas de vida. Apenas flores.
E se elas falassem?! Quem sabe elas me diriam que de longe observam a terra. E uma delas me pergunte o que há lá que a faz tão bonita.
Eu irei dizer que há homens, que há rios e oceanos.
E ela, talvez, torne a me perguntar o que há lá que a faz tão bonita?!
E eu direi que há animais selvagens e espécimes que o homem ainda nem ousou descobrir.
E novamente ela me fará a mesma pergunta.
Então responderei que há construções magníficas, muito maiores que o planeta das flores.
Enfim, perguntarei, quase sem paciência, o que faz aquele planeta onde ela vive tão bonito.. .
E ela me dirá: Flores, apenas flores.

sábado, 12 de abril de 2008


Sempre sonhado, aquele mundo tornou-se realidade. Tive a mesma sensação de, quando criança, pela primeira vez, pude pilotar uma bicicleta sem rodinhas auxiliares. Estava louco atrás de tudo, queria conhecer tudo em pouquíssimo tempo, queria ser, além de um espectador, um daqueles homens que olhavam para tudo e tinham aquilo como uma coisa normal.


Os carros, os boxes, pneus, bombas de combustível, correria e muito barulho. Ahhh, se esse dia fosse todo dia. Se todo dia pudesse ter esse magnetismo, seria tudo tão diferente.


Os sons, a luminosidade, cada detalhe, tudo marcante ao extremo, viraram tatuagem.


Podia sim botar tudo a perder, me enlouquecer e, num dia qualquer, do nono andar voar.


Quero esses dias todos os dias, quero essas horas na minha manhã. Quero esse sol de hoje em diante junto da chuva. Quero a chuva junto do sol.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

E a Vida é uma Caixinha de Surpresas...

Era uma vez três grandes amigos, os quais possuíam grande ideais. Compartilhavam juntos seus sonhos futuros, suas ambições, seus desejos, seus objetivos. Cada um com ideais diferentes, cada qual com o mesmo intuito: a permanência da forte a verdadeira amizade.

A convivência era praticamente diária, o entrosamento quase cirúrgico. Tanto que um sabia perfeitamente quando outro estava em apuros, passando por dificuldades que a vida lhes impõe todos os dias. E, juntos, venciam todas as batalhas. Tempo. O tempo passou, a vida passou, os dias passaram, o tempo passou. O tempo. Este mesmo tempo que ajuntou o "Trio Ternura" caprichosamente o esfacelou. Era tarde quando foram perceber isso. Assim como o Tempo, a Vida impôs aos três rumos diferentes, já imaginados, já idealizados, porém nunca fielmente acreditados.

Era difícil perceber que aquela amizade se tornaria uma prosaica memória de foto. Todos sabiam que este momento iria chegar, mas nenhum deles queria acreditar que isso tornaria-se verdade. Foi o que aconteceu. Entretanto, caro leitor, caso você ache que está tudo por um fio, engana-se completamente. Aquela amizade ainda persiste, mesmo que por suspiros cadavéricos. Tenha a certeza de que enquanto um tiver forças, todos permaneceram unidos. Lembrem-se: A batalha ainda não acabou.

O tempo

Le moulin gira. Le moulin vira. E o mundo gira.

Sobe, desce, e desce, e sobe. Não sei de onde vem esse vento, vento que move as pás e engrenagens tão pesadas do moinho.

Vivo preso nas pás, subo e desço, desço e subo. Vejo o longe, o perto, não vejo. Assim peço à meu grande Amigo: muitos dias mais pra minha vida, pra eu ver, ouvir, sentir, cantar, compor. Amar.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Dez meses

Aquele sorriso, aquelas palavras, aqueles gestos, tão ausentes nos últimos dez meses. A causa? O que mesmo? Ah, sim, uma briguinha boba. Por motivos idiotas. E agora volta tudo à tona. Tudo que estava debaixo de panos mornos durante os últimos dez meses.

O mesmo frio na barriga, o mesmo tremor nas mãos, a mesma ansiedade por uma resposta, a mesma satisfação, definitivamente, nada mudou.

E as pessoas gostam de dizer que o tempo cura tudo não é mesmo? Pois é, mas deixar para o tempo curar é a mesma coisa de varrer a sujeira pra debaixo do tapete, esconde, mas ela ainda existe. E a sujeirinha que eu varri pra debaixo do tapete ainda existe, ainda existe.

E os dez meses foram longos.
De muita angústia e sofrimento.
Dez meses.

terça-feira, 25 de março de 2008

Cores, letras e sons.

Um mundo em três cores, vinte e três letras, sete notas musicais, infinitas pessoas, ar e água. Mundos distantes e vizinhos, paralelos e transversais.

Vê-se da porta da sala pássaros pretos na calçada e pombas brancas nos galhos das árvores da praça. Da janela ao lado só um campo cheio de rosas amarelas. No segundo andar, no quarto da sacada, temos a visão de um lago. De dentro do átrio fechado, um mundo cúbista, caótico.

E eu, aqui, sentado em frente um monte de papéis, vejo apenas um mundo, branco, com linhas, rabiscos e pó de borracha.É o meu mundo, o mundo da criação, da realidade e da fantasia, o mundo que um dia será real.

domingo, 23 de março de 2008

Tudo aconteceu, passou e do mesmo modo como veio, áo invés de fluir, continuou. Me doía saber de tudo e nada poder fazer, não me esquecia de tudo e o mundo corria de forma a me lembrar, cada dia mais, de sua existência.

Todo dia era a mesma coisa, acordava e lançava meus olhos fora da órbita, procurava um esconderijo para eles e me deparava com a mesma imagem. Vermelho, tudo vermelho e seus cromados. Amava ver aquilo, mas logo me doía e me fazia repensar a vida e o que havia passado nos últimos meses. Chorar não chorei.

Via e desvia, olhava e desolhava. Decidi que não me faria mais mau caráter do que já estava sendo. O mundo volta a sorrir depois de hoje.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Paz

De hoje em diante há um novo decreto no reino do grande imperador NonJustus: só terá paz quem tiver dinheiro.

E como NonJustus é muito justo, dividiu a fortuna do reino entre os súditos e todos tiveram paz, tiveram?

Fidel, Fidel, ainda bem que tudo terminou, bem ou mal, terminou. Melhor do que se podia esperar, e terminou.

Por aqui, vejo um mundo diferente e, ainda não sei se foi por bem ou por mal que veio sem dinheiro, com paz. Obrigado Jesus, obrigado Inconfidentes, obrigado democracia que nos dá a oportunidade de criarmos nossa própria paz.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Hoje, estudando um pouco de física moderna depois da aula, aprofundei-me nos mistérios do tempo-espaço e nas fabulosas idéias de visionários e criadores de ficção. Buracos negros, densidade infinita, nona dimensão, quebra da linearidade do tempo.

Sons, luzes, acontecimentos, guerras, fatos diversos, repetidos e ao mesmo tempo únicos perdidos no passado ou guardados em gavetas só esperando para serem abertas e reviradas?

Pensa-se num mundo diferente, em poder consertar tudo o que se fez de errado, só em notícias boas, em previnir ataques, guerras, epidemias, mortes, em fazer espetáculos sempre perfeitos, nao ter erros nem deslizes, e tornar o mundo sem defeitos, sem defeitos mas sem expectativas nem curiosidade, já que tudo acontece da forma certa.

Os erros trazem idéias novas, fazem os seres pensarem ou agirem instintivamente de outra forma, os erros ensinam e marcam a vida de forma a contornarmos todos os calos e cicatrizes criados pelas atitudes e pensamentos que não surtiram o efeitos esperado.

Seria fantástico poder voltar no tempo, rever as pessoas que perdemos, não estar naquele lugar em determinado momento, fazer coisas que não fizemos e refazer as feitas de modo a torná-las mais proveitosas e interessantes ao nosso ver. Provavelmente seria algo muito complicado e difícil de lidar, já que não sabemos quais seriam as implicações causadas no futuro pela alteração do passado. Também, pra que mudar o que se foi? Deveríamos assumir as atitudes e lidar com as conseqüencias.

A vida é feita de erros e acertos, mais erros que acertos. Não deveríamos desejar voltar ao passado, não deveríamos querer mudar o que já se foi. Deveríamos sim, a partir de esforços próprios e no presente, criar um futuro melhor.

sábado, 15 de março de 2008

Hoje

Eu queria hoje ser uma cadeira, sem nada a dizer, sem nada a mudar, sem nada a acrescentar.

Eu queria hoje ser uma cadeira, muda e calada, que só ouve e não precisa se mover.

Eu queria hoje ser uma cadeira onde pessoas sentassem.... sentassem?

Eu não queria ser uma cadeira nunca, não quero ninguém nem nada sobre mim.

quarta-feira, 12 de março de 2008

2013220738

A vagabunda só me fez esperar, e hoje digo, amei por nós dois. Tantas juras, tantos mimos, tantos orgasmos e aquela postura apaixonante. Por que tudo, em vez de se desenrolar, virou um novêlo?

-Joga para o alto tudo, cuspa nos pés do papa e taca pedras à base da cruz. Grita tudo o que lhe vier em pensamento, por mais selvagem que lhe possa parecer.

Aquelas juras, não mais podem crer. Aqueles mimos, ficaram no íntimo de nós. Aqueles orgasmos, fingidos! E a mesma postura.

Bate a esperança à porta de casa e tudo escurece. Ainda bem que se foi. E frita meus neurônios e ferve meu sangue. Não é ódio, é orgulho, é amor próprio.

Nesse momento

Sons e luzes, fontes de pensamentos, ações e reações, chamam minha mente ao fundo e meus pensamentos à tona.

Cores, flores, cheiros e medos, caminhos que não tenho como seguir, e minha cidade jamais me mostrará novamente.

terça-feira, 11 de março de 2008

Olhei pela janela e descobri o mundo. Não tinha certeza de mais nada e só o que queria era o conforto de seu abraço. Podia ou não, vez ou outra, dar-me o luxo de sair para jantar com algum espírito que estivesse vagando por aqui. Era uma companhia silenciosa, muda e fria, que me fazia muito bem.

Mesmo com a necessidade da presença de alguém conhecido fazia-me de forte, e forte não era. Sorri, e deixei escapar uma lágrima bem gorda e escandalosa quando olhei pelo olho mágico da porta e descobri, do outro lado não havia ninguém.

Para esse mundo existem diferentes vinis, um de blues, outro de rock, um de clássicos e outro de clássicas, aquele de reggae. Hoje, um disco que há muito não tocava e pensava estar descartado apareceu em minha jukebox. Uma voz doce e feminina cantava Killing me softly whit his song e me embalava em profunda melancolia.

Imaginei Frida Calo junto de mim e um drinque a ser bebido por nós na mesma taça. Aquela mulher feia, com buço marcante, que tinha tantos mistérios quanto o mundo à minha volta.

Ninguém, nem mesmo eu, poderia me fazer acreditar que não estava ficando louco. Meus pensamentos criaram uma construção enorme, de pedra e cimento, assinada por Gaudí e musicada por Bach. Construção bela e caótica, inacabada e perfeita, era o que me foi projetado.

A fluidez que me trouxera até aqui, agora não mais se apresentava. Parecia-se mais com um monte de miçangas coloridas em cabelos revoltos. Sem rumo buscava minha consciência.

Adormeci e sonhei com o mundo onde usava fraldas e sentia o cheiro do café coado por vovó pontualmente aos cinco minutos para as quinze. O gosto dos pães e quitandas de minas, a sombra da parreira no quintal, as tardes chuvosas com cheiro de terra e as ensolaradas onde os bem-te-vis fanfarrões aprontavam mil e duas peripécias.

Acordei e estava junto dos prédios e do fim do mundo. Longe dos corações e perto das mansões, onde estão as expectativas. Estava em fuga do resto de mim.

-Pára de se lamentar, pára de sonhar com o que já se foi. Aconchega teu eu dentro de ti mesmo, vive e não reclama, essa é tua sina.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Portas e janelas abertas, ventilador ligado e muitas pessoas; trinta, mais de trinta graus, pessoas. O calor vencia os artifícios e os bons modos estavam bem esquecidos; mãos agitadas, cabelos desgandanhados, pés fora dos calçados, marcas escuras nas camisetas que indicavam suor.

Competia ao mestre a liberação dos estudantes e conseqüente alívio da tensão e ansiedade causados pela hipertermia corporal que, àquele momento, causava incômodo e desnorteio.

As mulheres, poucas e formosas, com o colo de fora, respingavam como se, frenéticamente, estivessem com homens e estes cheiravam à cavalos molhados.

O sol impiedoso, açoitava o lombo das árvores e ,quando chegasse meio dia, secaria até mesmo as mais verdes folhas do topo. Da janela, via-se os galhos que dissoravam e murchavam. Os pássaros que refrescavam-se à mangueira respingante, travavam épicas batalhas pelas poucas gotas de que não tinham nem sequer tempo de escorrer pelo chão, já que viravam vapor quase instantaneamente.

Confrontava meu desconforto à felicidade dos lagartos e mal podia tentar entender o que gerava tamanha satisfação naqueles seres asquerosos e ao mesmo tempo poéticos.
Quem dera, José, Maria, eu e quem quer que fosse, pudéssemos estar num hotel de gelo no norte da Europa.

Viva o povo das terras altas, onde não há calor como esse, viva as praias, açudes e piscinas, a cachaça, a boa música, as pernas, peitos, bundas, o biquíni e o top-less. Viva o fim da aula e a água gelada do bebedouro.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Diz-se de tudo o que é belo, da alma surgiu, de Deus é filho.
Da vida tem-se o mundo a correr e as pedras, areia tornarem. O vidro, água e sal, cem anos não bastam, nem cem graus.
Correr sem sentido, olhar para o abismo, berrar e, contudo, não ouvir-se.
As putas se remexem e ouro fazem com as coxas, pencas de filhos aos ventos e ao crime, não são, nem serão, futuro de pátria alguma.