sábado, 23 de janeiro de 2010

Novela das Férias de Verão.

Há seis semanas os sons daquela melodia do mato vinham se reproduzindo com uma nitidez cada vez maior, antes era o sabiá na Serra da Boa Esperança, aquele que bateu asas e aninhou na minha janela, depois os filhotes. Tinha cheiro de mato seco e dali vinha um calor com gosto de sereno que me lembrava as manhãs na fazenda junto do curral e as galinhas que eriçavam as penas tentando se aquecer...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Himeneu

No capítulo trinta do livro Cândido ou O Otimismo de Voltaire, o escritor insere duas palavras em um contexto assustador para a segunda metade dos anos 1700, pelo menos a meu ver. Foi, sem dúvida alguma, a passagem mais marcante do livro para a grande maioria dos leitores da atualidade. Rabugenta e insuportável foram as palavras, e elas se referem à Cunegundes, grande amada de Cândido, o protagonista, pela qual ele viajou o mundo, perdeu fortuna, passou inúmeros apuros e pensou durante toda sua odisséia só ter felicidade quando encontrasse a amada.

Voltaire, na conclusão de sua obra, fala das provações por que passou Cândido e do seu casamento com Cunegundes e ainda: mais nada lhe restou além de sua granja; a mulher, dia a dia mais feia, tornou-se rabugenta e insuportável.

Seria esse o fim de todos os homens? Seria mesmo o casamento uma reunião de desilusões e medos, um consórcio com o diabo e o banquete onde vamos nos redimir à todos?

Ainda me vem o pensamento de que todos gostam quando a noite vem e que isso é o que faz todos perpetuarem numa escravidão sem vassalos nem suseranos, quiçá, algum dia, se amarão sem saber.