quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Naquele Tempo - por Waldir de Luna Carneiro

Neste aniversário de "Gente Muito Importante", com parabéns para a Dalzira e sua brava equipe, nos lembramos do curso primário, quando inventamos de fundar, ao contrário de muitos que queriam um jornalzinho, uma pequena revista. Não havia a tecnologia de hoje, que edita um livro em poucos dias e uma revista em poucas horas. Depois das reuniões na sala de aula, optamos por visitar uma gráfica. O proprietário se assustou com o bando de meninos e meninas que queriam percorrer as oficinas para saber como se fazem jornais e revistas.

Não tínhamos a menor idéia de uma tipografia. Nosso espanto divertiu os tipógrafos que nos encheram de explicações. Jornais e revistas, disseram eles, saiam inicialmente de caixas de madeira divididas em compartimentos e dentro de cada compartimento, uma letra diferente. E dali as letras pulavam para uma pecinha metálica que chamavam de componedor, que era empunhado pelo gráfico com a mão esquerda, enquanto a direita ia pescando as letrinhas que nos pareciam de chumbo. Letra por letra, surgindo frases que enchiam o componedor. E não era só letra. Haviam espaços também de chumbo, de vários tamanhos e espessuras, para separar as frases; sinais gráficos de "ponto", "vírgula", "ponto e vírgula", "dois pontos", "interrogação" e "exclamação" e tudo mais que requer a grafia. As letras maiúsculas tinham seu recanto, não se misturavam com as demais. Enchido o componedor que abrigava de cinco a dez linhas, o tipógrafo, com muita técnica e carinho, transportava o composto a um pequeno tabuleiro e de lá para a paginação, um grande quadro, espécie de moldura que seria a página do jornal ou da revista. Devidamente ajustada, a composição ia com segurança à impressora, que poderia ser movida a eletricidade ou manualmente. Na impressão das páginas havia rolos, que antes de receber tinta pareciam geléias de mocotó. Saímos maravilhados. Encantados. Que notável era a feitura de um jornal. Lembrávamos de "EU SEI TUDO", a mais importante revista que naquele tempo circulava no Brasil. O dono da gráfica explicou-nos ainda que Machado de Assis muito aprendera trabalhando numa tipografia! Aquilo nos deixou enlevados e passamos a cuidar do que publicaríamos numa primeira edição. Cuidamos de juntar dinheiro, a gráfica não faria nada de graça, mas nossa emoção era tal que deixamos isso a cargo da professora, a mais interessada no nosso arrojado projeto. Ela queria saber de que assunto cuidaríamos. Choveram composições: "A Fazenda assombrada", "O pio da codorna", "A lagartixa esperta", e como era tempo da Revolução Constitucionalista, surgiu "Morte no túnel da Mantiqueira". E o título para a revista? "A Voz do estudante"?, "O Dever"?, "O Brado Juvenil?, "O Colibri"? Saiu até, me lembro bem, "Juventude Importante". Foi a batalha mais árdua. Não sabíamos como arrumar um bom título. Dezenas de opiniões surgiam, pedimos ajuda para os colegas de outras séries, parentes e amigos, até que o marido da professora, conhecido pela sua sovinice, não querendo participar com dinheiro, nos convenceu que deixássemos de bobagens, seria uma revistazinha que ninguém ia ler. E lá se foi o nosso sonho, o decantado projeto, mas aprendemos, descobrimos como se faziam jornais e revistas. Aquela tipografia nos pareceu tão importante que passamos a olha os tipógrafos como se fossem engenheiros, os arquitetos, os construtores das catedrais do saber.




Na primeira vez que li esse texto do querido "tio Waldir", o maior dramaturgo amador do Brasil, contista premiado, dedicado às comédias de costumes, também recebedor da "Medalha da Inconfidência", do Estado de Minas Gerais, como reconhecimento do seu trabalho, várias sensações, por mais estranhas que me parecessem, afloraram. Numa segunda leitura, me veio à cabeça um mundo mais charmoso, mais lido, menos robotizado, menos desinformado, menos globalizado, no qual eu gostaria de ter vivido. Nas leituras subsequentes, tudo tornou à minha infância, quando queria ser alguém diferente.

Eu era movido à música boa, clássica, tinha, e ainda tenho, Bach como meu preferido, ao lado de Vivaldi e Richard Strauss. Aluava ao som de marchinhas, bossa nova e sambinhas aos oito. Aos dez, queria ser diplomata. Uma compreensão de mundo muito menos ligada ao que pensavam os outros e muito mais livre de preconceitos.

Não desbota da minha memória a expressão da face dum colega de sala da terceira série num dia que acordara com a pá virada. Em resumo, me senti um serzinho verde ou cinza, com o que ele me dissera, vindo de outra galáxia. Meus canais com esse mundo que eu cultivava se fecharam parcialmente. Tornou-se um prazer quase secreto escutar músicas que nenhum outro garoto da minha idade escutava. Imaginava-me como um pecador por não gostar do balanço do axé ou a batida da música cowntry.

Quem dera eu tivesse conversado com meus pais, pessoas instruídas, sobre o que aconteceu. Talvez minha infância não teria a marca desse dia. Poderia ser bem diferente. Será que eu não teria influenciado o gosto musical e o prazer da leitura em alguém? Provavelmente eu gostasse mais de ler e escrever do que gosto hoje. E redigiria melhor, e teria mais bagagem cultural e minha leitura seria tão dinâmica como será daqui certo tempo.

Bom mesmo é pensar que ainda penso, e é melhor do que nada.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Alimentação e hábitos de vida saudável.

Se nos alimentássemos melhor, viveríamos mais. Fato consumado, rematado.

Se nos alimentássemos da música que nos é imposta pela mídia já teríamos morrido há muito tempo. Onde estão os ícones culturais, os homem-luz nos quais nos espelhamos?

Talvez um regime opressor gerasse emoções, frustrações, insatisfações, sentimentos que traduzir-se-iam em elementos culturais de qualidade, proporcionando um engrandecimento espiritual no "pai-da-obra" e insuflando pensamentos e sentimentos nos consumidores.

Talvez o caminho do meu sangue nao estivesse alterado pelos ateromas de sertanejo, das danças "da bundinha", "da boquinha da garrafa" e das frases sem pudor do Funk. E aquele bate-estaca que altera meu ritmo cardíaco talvez fosse uma influência pouco conhecida no meu mundo e no seu também. Se você perde seu tempo lendo textos de um jovem que ao menos tenta ter senso crítico, você não é massa, é molho.

Fast-food é junk-food. Fast-food é música de hoje em dia. Junk-food, junk-music.