terça-feira, 11 de março de 2008

Olhei pela janela e descobri o mundo. Não tinha certeza de mais nada e só o que queria era o conforto de seu abraço. Podia ou não, vez ou outra, dar-me o luxo de sair para jantar com algum espírito que estivesse vagando por aqui. Era uma companhia silenciosa, muda e fria, que me fazia muito bem.

Mesmo com a necessidade da presença de alguém conhecido fazia-me de forte, e forte não era. Sorri, e deixei escapar uma lágrima bem gorda e escandalosa quando olhei pelo olho mágico da porta e descobri, do outro lado não havia ninguém.

Para esse mundo existem diferentes vinis, um de blues, outro de rock, um de clássicos e outro de clássicas, aquele de reggae. Hoje, um disco que há muito não tocava e pensava estar descartado apareceu em minha jukebox. Uma voz doce e feminina cantava Killing me softly whit his song e me embalava em profunda melancolia.

Imaginei Frida Calo junto de mim e um drinque a ser bebido por nós na mesma taça. Aquela mulher feia, com buço marcante, que tinha tantos mistérios quanto o mundo à minha volta.

Ninguém, nem mesmo eu, poderia me fazer acreditar que não estava ficando louco. Meus pensamentos criaram uma construção enorme, de pedra e cimento, assinada por Gaudí e musicada por Bach. Construção bela e caótica, inacabada e perfeita, era o que me foi projetado.

A fluidez que me trouxera até aqui, agora não mais se apresentava. Parecia-se mais com um monte de miçangas coloridas em cabelos revoltos. Sem rumo buscava minha consciência.

Adormeci e sonhei com o mundo onde usava fraldas e sentia o cheiro do café coado por vovó pontualmente aos cinco minutos para as quinze. O gosto dos pães e quitandas de minas, a sombra da parreira no quintal, as tardes chuvosas com cheiro de terra e as ensolaradas onde os bem-te-vis fanfarrões aprontavam mil e duas peripécias.

Acordei e estava junto dos prédios e do fim do mundo. Longe dos corações e perto das mansões, onde estão as expectativas. Estava em fuga do resto de mim.

-Pára de se lamentar, pára de sonhar com o que já se foi. Aconchega teu eu dentro de ti mesmo, vive e não reclama, essa é tua sina.

Um comentário:

Thaís disse...

"Pára de se lamentar, pára de sonhar com o que já se foi. Aconchega teu eu dentro de ti mesmo, vive e não reclama, essa é tua sina."

Se eu pudesse descrever um dos meus maiores desafios, com certeza usaria essas palavras, nessa ordem... parece meio absurdo mas tem coisas que você escreve que eu leio como se fosse pra mim. Me identifico, sabe? Beijo